A metáfora criada na primeira sequência de Riscado, onde a atriz Bianca (Karina Teles) caminha de amarelo, segurando balões vermelhos no corredor escuro de uma repartição prestes a iniciar seu trabalho de animadora de festas deixa explícita a idéia do diretor Gustavo Pizzi (Pretérito Perfeito): abordar caminhos alternativos para realizações pessoais e artísticas. Saber do riscado, e viver arriscadamente. Um simples paralelo à forma em que Riscado foi concebido por Pizzi e Karina.
Bianca encontra diversas maneiras de fazer o que sabe – muito diferente de fazer o que quer – e assim, pagar as contas. Em todos os trabalhos, ela deve parecer feliz. Nesta ambiguidade, Pizzi mostra que a contemporaneidade ainda respira ares retrógrados; por aqui, para ser um ator, deve-se estar na tela – raciocínio construído na cena mais bonita do filme. Do contrário, você terá um “emprego que não é bem um emprego”. Pizzi faz duras críticas ao sistema do entretenimento de forma terna. É possível balancear a ternura da esperançosa protagonista com a indignação da impossibilidade de viver fazendo o que gosta.
Para situar o estado de espírito de Bianca, Pizzi utiliza vídeos que a protagonista filma com sua máquina digital – aqui sim, ela faz o que quer – e que mais tarde ganharia uma igualmente trágica e colorida releitura. A cada conta paga, ela metaforicamente risca uma obrigação e faz questão de comemorar. A cada peça encenada, uma celebração; mesmo que isso não a tire do descontentamento. Para o diretor, fugir da cartilha do ganha pão é um ato de coragem, mas que é completamente passível às obrigações do dia a dia, como um chefe que decide o que devemos fazer. Riscado é um tapa na cara dado com luva de pelica.
★★★★★
Riscado (Idem, Brasil, 2010) de Gustavo Pizzi
Olouco, cinco estrelas? Bela resenha.
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