Se existe alguma preocupação no sentido de construção narrativa em O Palhaço ela está no conflito parcialmente físico de Benjamim (Selton Mello) em relação à profissão de palhaço e diretor do circo Esperança. Acompanhamos a estadia da trupe circense por vilarejos do interior de Minas Gerais, onde a submissão ao acaso e contratempos realçam a insatisfação de seu protagonista.
Porém, a sutileza incrustada na narrativa está no conjunto de gags que ilustram a rotina de apresentações e ciladas no qual o grupo entra através das estradas e não por envolvimento com seus personagens. Podemos aí incluir as memórias de infância e inevitáveis comparações à Fellini pela incansável busca por cumplicidade neste grupo cheio de figuras emblemáticas, mas não reconhecíveis. O conflito de Benjamim é silencioso e forçado – com raras exposições envolvendo frases curtas e a materialização dele através da figura de um ventilador e de seu documento de identidade.
Essas gags configuram-se nas participações de grandes nomes do gênero como Moacyr Franco e Ferrugem, dicotômicos sob a ótica da vida – um disposto a brincar com o que é sério, já o outro deseja ser sério dentro de uma brincadeira – e simbolizam bem a questão da vocação profissional e de como ser feliz. O Palhaço acha sua resposta com ajuda dos coadjuvantes representativos e distanciamento de seu protagonista. Mas, como se trata de uma viagem, não importa como você vai chegar. O que importa é desembarcar são e salvo.
★★
O Palhaço (Idem, Brasil, 2011) de Selton Mello
Finalmente alguém que tem a mesma opinião sobre o filme. Já estava me sentindo completamente só!
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