SEITA MORTAL


Em certo momento de Seita Mortal, Kevin Smith utiliza um versículo bíblico, que conta em forma de parábola o fim de um momento ruim usando a passagem da primavera para o verão. Serve como alusão à carreira do próprio Smith, que sucumbe às tentativas frustradas de resgate ao êxito de críticas na década de 90 para um recomeço, mesmo que seja breve, afinal o diretor anunciou sua aposentadoria para 2014, ano que pretende terminar as filmagens da segunda parte de Hit Somebody.

Seita Mortal denuncia a distorção de mandamentos religiosos como sustentação para a intolerância e conseqüentes ataques contra homossexuais. O escracho outrora usado em Dogma se transforma em fina ironia enquanto analisa a facilidade de resolução de casos policiais envolvendo religião após os ataques de 11 de setembro. O cerne da história está numa igreja localizada num condado distante de Nova Jersey (cidade natal de Smith), comandada pelo pastor Abin Cooper (Michael Parks), entusiasta da condenação eterna para os pecadores e que usa sua “aproximação” de Deus para configurar seus seguidores e familiares como um grupo terrorista.

Smith além de abordar novas linguagens para sua obra – planos, desenho de câmera, edição – e que condizem com a força narrativa que flerta com o terror, mas que se explicita como um manifesto e assim não traça fronteiras para expor suas idéias; compara o radicalismo religioso ao nazismo, os princípios de bom senso que são quebrados por conta do ilusionismo que um homem pode trazer (onde as trombetas de Apocalipse regem a melhor cena do filme) e a influência da TV e da imprensa nesses casos.

Compacto, o roteiro evita gratuidades e utiliza o menor dos artifícios para costurar a história. Cada segundo serve como um impulso para mais tarde ser desconstruído como uma forma de protesto contra o abuso de poder, seja policial, de imprensa ou da religião. É muito bom ver Kevin Smith de volta. Mesmo que seja longe das comédias.

★★★★★
Seita Mortal (Red State, EUA, 2011) de Kevin Smith

2 comentários:

  1. Tema polêmico com o interesse ainda de ser um filme bem diferente do restante da carreira de Kevin Smith.

    Pretendo assistir,

    Abraço

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  2. Eu só um filme de comédia com potencial perdido tentando ser sério. É bom quando não é sério, aí fica sério.

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