Festival do Rio: VELHA JUVENTUDE


Após sete anos sem sentar na cadeirinha de diretor, Francis Ford Coppola volta com um drama complexo, aqui chamado de Velha Juventude, que pede para o espectador uma atenção maior ao mesmo tempo que o mesmo grita por um copo de café.

Tudo se encaixa no seu momento certo, tudo tem o seu porque, mas a chuva de informações é tão grande, que pode deixar o espectador longe do que o filme se propõe e não por iniciativa própria. A história de Dominic Matei (Tim Roth, sensacional como sempre), um professor de lingüística que em 1938 é atingido por um raio. Ele sobrevive e não só consegue se manter vivo como rejuvenesce acompanhado de um grande desenvolvimento intelectual. Os temas tratador por Coppola que parecem ser políticos, são muito mais espirituais e complexos que um suspense de interesses.

Coppola continua com sua elegância tradicional quando o assunto é direção. O cuidado é enorme com a estética, o clima é frio e o que ilumina a história são as velas. O amarelado faz um impacto impressionante, mas nem isso consegue segurar a trama, que foge por todos os cantos da tela.

O interesse dos nazistas pelo seu caso é enorme, ele pode ser submetido a dezenas de testes e ser aproveitado por Adolf Hitler. Exilado, Domic é assombrado por uma memória, enquanto suas pesquisas aumentam. O poder dado o eleva a um patamar espíritual absurdo e nessas o espectador pode simplesmente se perguntar o que David Lynch está fazendo ali quando o sono já está batendo na sua cabeça.

O grande conflito de Dominic é escolher a entregar-se ao seu trabalho ou ao seu amor. Todas tem consequências e um porque para acontecer, que Coppola dirige com muita elegância, mas que cansa o espectador por tamanha complexidade, por uma narrativa confusa e com muitas informações, mas existe uma conexão, existe uma conclusão sensata. Cabe ao espectador julgar. É interessante, mas vá preparado.

★★

Velha Juventude (Youth Without Youth, 2007, EUA) de Francis Ford Coppola 

Festival do Rio: THE LIVING END



Dois rapazes se conhecem em situação inusitada e descobrindo que tem poucos dias de vida, resolvem aproveitar o tempo disponível e descobrem um outro lado da vida. Parece a sinopse do último filme Jack Nicholson lançado no Brasil, Antes de Partir, que também tem a presença de Morgan Freeman... Mas nesse caso estamos falando de um filme de 1992 e o diretor é ninguém menos que o psicodélico Gregg Araki, exibido em versão remasterizada no Festival do Rio.

Então, pode esquecer o convite que você faria para sua mãe.Jon descobre que tem o vírus HIV e logo entra em crise, crítico de cinema e fan dos Smiths, recorre a sua amiga Daisy e seu inseparável gravador para as mais íntimas revelações. Luke também tem o vírus, mas passa seus dias correndo riscos, se envolvendo em brigas, assaltos e pegando caronas com desconhecidos. Eles se conhecem em uma situação perfeita para o encaixe de personalidades completamente diferentes, cada um em um extremo da realidade de quem tem o HIV, que obviamente não tem dias contas, pode ser tratado e viver por muito tempo e a identificação mútua é certa.

Conhecemos muito pouco da vida dos dois, mas o intenso momento vivido pelo casal é a preocupação maior do roteiro, que não poupa cenas de sexo, brigas, diálogos absurdos e uma trilha sonora espetacular.O retrato de Araki é a busca dos dois por um ar diferente, não um clima que os sufoque com a realidade, algo que os obrigue lembrar ou apenas viver uma vida ordinária. Um recomeço para os dois. Algumas criativas analogias são feitas pelo roteiro, mas a história é linear, de fácil degustação, mas que com tantas idas e vindas dos personagens, acabam cansando.

Araki já mostrava uma estética que usou por bastante tempo, principalmente na trilogia lisérgica, com objetos de arte consagrando o movimento punk com Andy Warhol ou o rock em geral como blusas de bandas e consagrando cineastas como Godard e Clint Eastwood, buscando uma naturalidade (com sucesso) e a já clássica psicodélica arte em cenas em locações. A simplicidade também é usada bastante no longa, algo que foi esquecido através do tempo.O romance de Jon e Luke é sincero e o registro de Araki não soa bobo, mesmo com boas piadas no meio da trama. As crises são exageradas e tiram o foco principal do filme por vezes, mas o maior show é a estética e a façanha de Araki de registrar a época do jeito que ela realmente era.

O ar nostálgico após ver qualquer filme de Araki lançado nos anos 90 infecta qualquer um, pois estamos falando de um diretor que não liga realmente para as consequencias, como diz os créditos iniciais do longa, mas que não consegue impactar com essas voltas todas, algo que conseguiu nos anos seguintes.

★★

The Living End (Idem, EUA, 1992) de Gregg Araki

Festival do Rio: TRAQUINAGENS


Como podemos mudar o curso da sorte e do azar? Qual a relação disso com nossas vidas? Stefek é um garoto como todos os outros. Tem uma irmã mais velha, é conhecido por todos em seu bairro e sua mãe vive trabalhando para sustentar a casa. O pai, trocou a mãe por outra mulher. E sua vontade é que o pai volte para a casa. Onde entra a sorte e o azar na história? 

Andrzej Jakimowski comanda com muita competência o longa Traquinagens, em exibição no Festival do Rio desse ano. As sutilezas do roteiro e analogias são inteligentes, levantando muitas questões sobre as relações dos homens com emprego, índoles e interesses com diálogos comparativos que chegam a ser bizarros e um subtexto, completo, não reto, mas que é de simples compreensão. Nada fica claro durante o primeiro ato e para quem não se interessar pela história, nada vai ficar claro até que o créditos su
bam. A analogia entre sorte, azar, acaso e pré-destino pairam por todo o filme, com a tal inteligente sutileza já citada.

As histórias paralelas também usam tal ferramenta e servem para situar a importância de cada personagem para Stefek e também para entendermos de rápida maneira certos objetivos sugeridos pelo roteiro.

A beleza da fotografia e direção de arte que não precisaram de tanto esforço já que a arquitetura da cidade e a beleza natural jogam a favor. A escolha de uma iluminação amarelada casa com o clima do filme. O capricho é cativante, mas por vezes ele acaba caindo na mesmice, algo que pode tirar o espectador de jogo e que tem a difícil tarefa de voltar ao andamento do filme com a concentração de antes.

Por sorte em seu último ato, o filme volta ao fôlego inicial, com poesia e ações afiadas para um encerramento digno e interessante. Vale destacar a atução do garoto Damian UI, que intepreta Stefek. Se a amada Miss Sunshine realiza seu sonho quando participa de um concurso, vemos que o sonho da criança polônesa é muito mais profundo e instigante.

★★

Traquinagens (Sztuczki, Polônia, 2007) de Andrzej Jakimowski

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