Lançamentos em Video on Demand



Breves comentários sobre os lançamentos em Video on Demand no Brasil (maio e junho de 2015).

88 (Idem, Canadá, 2015) de April Mullen

Um filme básico sobre como a montagem pode subverter posições em um roteiro. A trama cerca as modulações de humor de uma garota que vai da violência extrema ao esquecimento completo (chamado de Síndrome da Fuga) e o costura basicamente por flashbacks como cânone narrativo. Se aproxima de uma paródia de um filme de ação dos anos 00, o que seria muito interessante, mas a intenção da jovem April Mullen (Dead Before Dawn, 2012) é mesmo estabelecer o paralelo entre tensão e montagem, sem muito sucesso.

Os Amigos (idem, Brasil, 2014) de Lina Chamie

Existe um motivo muito pertinente sobre a recusa da crítica e público ao filme de Lina Chamie: é um filme infantilóide. Não só por relacionar cada quadro à infância como principal arco dramático,  mas o que derruba Os Amigos são as alegorias escolhidas, com a questionável necessidade de tornar tudo em ilustração, em imagem, consequentemente enfraquecendo o texto. Sem limites, Chamie volta a câmera à obsessão em retratar o caos urbano cotidiano - assaltos, trânsito, ambiente de trabalho, bares -  e traçar o paralelo com estado de luto e a necessidade de seguir em frente do protagonista enquanto a nostalgia o acompanha,  muitas vezes, no sentido literal. Os Amigos mais parece uma colagem introdutória às intenções de Via Láctea e São Silvestre (este o ápice da carreira de Chamie até agora), do que um filme dado aos atores.
Encalhados (Laggies, EUA, 2014) de Lynn Shelton

Laggies é mais um braço na carreira cômica de Lynn Shelton. O filme, agridoce em relação à crise de meia-idade e também com o paralelo dos resquícios que a adolescência deixa na vida adulta, mais parece uma tese (ou afirmação) da exatidão narrativa da comédia americana dos anos 00.

O Apostador (The Gambler, EUA, 2014) de Rupert Wyatt
 
O filme começa com duas sequências intensas de cerca de quinze minutos cada exibindo a dupla relação do professor (e apostador, claro) Jim Bennet (Mark Wahlberg) com o real - em duas situações de derrota. Da meia hora inicial ao fim, Wyatt faz o trabalho de desinflar lentamente o que começou com tanta força enquanto o filme se desenvolve preso à coragem do protagonista em lidar com alunos e mafiosos com a mesma audácia. O  mais interessante em O Apostador é como Wyatt traz frescor no conto de coragem de Bennett e como ela está presa à utopia da riqueza e a certeza da autodestruição.
 
Da Sweet Blood of Jesus (Idem, EUA, 2014) de Spike Lee

O Nosferatu de Spike Lee. Ainda mais frágil que o de Herzog e mais interessado na tradução dos valores do negro americano nos tempos de Barack Obama, Lee faz uma espécie de filme mudo, regido por canções-emblemas ao espírito que é sugerido (de Milton Nascimento a Nas, passando por Jorge Ben e The IZM), onde um vampiro é entusiasta da cultura africana e temeroso às distorções que a cultura afro-americana sofreu, espelhada, novamente por uma igreja protestante do Brooklyn. Da Sweet Blood of Jesus é o mais corajoso dos filmes de Lee pois, fora os documentários, está na fronteira entre o seu universo particular e o gênero que por vezes o tira do que lhe é costumeiro (Oldboy, O Plano Perfeito, Milagre de St. Anna). 

Laços de Sangue (Blood Ties, EUA, 2013) de Guillaume Canet

Impressiona ver o nome do jovem ator francês Guillaume Canet na direção de um filme que se passa nos anos 70 e em Nova Iorque. Impressiona também a logo da competição de Cannes no início do filme. E ainda mais o nome de James Gray envolvido neste projeto, pois o que se vê é um esforço para tornar um thriller diluído em um arco dramático construído com muitas saídas como forma de representar um estado de espírito deixado no início dos anos 90 na cidade. Canet não torna os irmãos, extremos na história, em extremos narrativos. Como estarão grudados, seja pelo roteiro ou pela montagem, o filme se resume a atrair a noção de que há uma distância gigantesca como a de um abraço. Tão grande quanto a diferença entre polícia e criminoso.

 
A Entrega (The Drop, EUA, 2014) de Michael R. Roskam

Debut de Roskam no mercado americano, A Entrega é uma brincadeira com a previsibilidade e a quebra de ética envolvendo a máfia russa e laranjas americanos em local ermo. A sugestão se sustenta por tão pouco tempo que o filme esbarra no ridículo diversas vezes, principalmente por agregar seus intentos de modo que tudo funcione contra a história.

 Julho Sangrento (Cold in July, EUA, 2014) de Jim Mickle

Mickle volta a flertar com o cinema noir, desta vez pelo pessimismo. Quando  mais se aproxima de um caso, pior ele fica. Desta forma, o filme toma outro viés, o de  conto moral por essência, no qual a paternidade é o pilar. Como Somos O que Somos, filme anterior de Mickle, a atmosfera é impactante, mas se esvazia pelo roteiro fragilizado.

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