OS MELHORES FILMES DE 2011...ATÉ AGORA.

O tempo passa rápido. Ultimamente, mais rápido do que estamos acostumados. O réveillon foi anteontem, não? Enfim, é chegada a hora de divulgar os melhores filmes de 2011. Até agora. O critério de escolha dos filmes é a mesma do ranking dos melhores do ano: longas produzidos entre 2010 e 2011, exibidos no Brasil em circuito ou festivais.

10. NAMORADOS PARA SEMPRE (Blue Valentine, EUA, 2010) de Derek Cianfrance

09. REENCONTRANDO A FELICIDADE (Rabbit Hole, EUA, 2010) de John Cameron Mitchell

08. OS NOMES DO AMOR (Le Nom Des Gens, França, 2010) de Michel Leclerc 

07. SOBRENATURAL (Insidious, EUA, 2010) de James Wan
06. ESTRADA PARA YTHACA (Idem, Brasil, 2010) de Guto Parente, Luiz Pretti, Ricardo Pretti, Pedro Diógenes
05. HOMENS E DEUSES (Des Hommes Et Des Dieux, França, 2010) de Xavier Beauvois

04. INVERNO DA ALMA (Winter's Bone, EUA, 2010) de Debra Granik

03.RANGO (Idem, EUA, 2011) de Gore Verbinski

02. CISNE NEGRO (Black Swan, EUA, 2010) de Darren Aronofsky

01. MEIA NOITE EM PARIS (Midnight in Paris, EUA/Espanha, 2011) de Woody Allen

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FOO FIGHTERS - BACK AND FORTH

 
Fora o talento, o êxito comercial dos Foo Fighters se deve ao carisma de seu líder e assumidamente chefe do grupo Dave Grohl. Reconhecido por seus anos no Nirvana, Grohl é desdenhoso com o passado. James Moll, vencedor do Oscar por The Last Days trata de passar rapidamente por este conturbado período para analisar conflitos comuns de uma banda em Foo Fighters – Back and Forth.

E novamente o carisma os salva. Composto apenas por depoimentos dos integrantes do grupo (ex e atuais) - com exceção de Butch Vig, produtor do último álbum do grupo e do clássico Nevermind do Nirvana – e imagens de arquivo, o longa acompanha os grandes contratempos – em sua maioria iniciada durante o processo criativo – da história da banda. Brigas, drogas, turnês intermináveis e demissões são expostas com a maquiagem do característico bom humor de Grohl, e Cia. No fim das contas, o impacto de qualquer intenção dramática criada por Moll é dormente à frente das piadas no melhor estilo “do passado eu dou risada”.

Conquistada a força, a perda de foco garante bons momentos, como Grohl citando o dia em que descobriu que poderia ter músicas pesadas e acústicas no mesmo álbum ou as formas de expurgar sua ansiedade pelo resultado final de Wasting Light, lançado neste ano.
É evidente o comando de Grohl sobre a banda, mas Back and Forth também se sustenta pela franqueza com que Nate Mendel, Pat Smear, Chris Shiflett e Taylor Hawkins falam sobre a relação com o “chefe”. Salientam o talento e dedicação e sem ressalvas lembram que ele não é tão legal quanto parece. E, como o próprio se refere às turbulências do grupo: “prefiro lembrar-me das coisas boas”. E é isso que James Moll adota para Back and Forth: um filme sobre um sonho realizado.

Foo Fighters - Back and Forth (Idem, EUA, 2011) de James Moll 

MORRO DO CÉU


Entre as montanhas do interior do Rio Grande do Sul está Cotiporã e lá, no Morro do Céu, vive a família Storti. E como registro do cotidiano da família – principalmente dos jovens Bruno e Joel -, o diretor Gustavo Spolidoro aborda diferenças entre o realismo e o naturalismo através da linguagem documental em um cenário de causar inveja a Antonioni.

Morro do Céu romanceia a entrega de garotos a um mundo que os sufoca. O caçula Bruno tem as mesmas motivações e preocupações que qualquer outro jovem: ser aprovado na escola, festas e sua paixão juvenil. Integrado à realidade da vida rural do local, o garoto silenciosamente almeja vôos maiores. A escola seria trocada por uma viagem à Itália – uma tímida declaração de amor aos pais – e sua paixão em pouco tempo seria um bem sucedido casamento. O fim do carnaval, para Bruno, pontuaria o início de sua nova vida. É importante frisar que o longa dispensa qualquer resquício melodramático apesar do flerte com o lado ficcional. Spolidoro joga com a decupagem.

Os Storti são personagens reais. Carregam, de fato, seus nomes e personas, sem escapar da mise en scene. A natureza protagoniza e ilustra este desconforto com o infinito horizonte verde formado por grandes montanhas. Acompanhamos diversas tentativas de fuga. Possibilidades e questões se formam entre diálogos corriqueiros. Para eles, basta se esconder até o carnaval chegar e parabenizar quem construiu o esconderijo. Só não se sabe quando o carnaval termina.


Morro do Céu (Idem, Brasil, 2009) de Gustavo Spolidoro

A CASA


Integrante da seleção do 63º Festival de Cannes, A Casa subverte convenções do suspense e abraça a crueza estética para entronizar o elemento adormecido pela contemporaneidade para o gênero: o som. Filmado com uma máquina fotográfica em apenas um plano-sequência, o longa do uruguaio Gustavo Hernández aproveita tal abordagem para criar uma linguagem ambígua.

A esfera de tensão que cobre o filme vem do silêncio. E nele, Hernández lentamente conta a sua história. O que aparenta ser mais um filme-tormento sobre espíritos em uma casa mal assombrada aos poucos se torna uma análise brutal sobre a resposta instintiva e suntuosa a um comportamento calcado na covardia.

No som justificado em cena – o rádio, o ranger das portas, os objetos movendo -, está a morada do medo. Tal método fora coroado anteriormente por Hitchcock e eternamente lembrado em O Iluminado de Stanley Kubrick. Com poucos diálogos, A Casa se torna uma experiência exclusivamente sensorial com pouquíssimas inserções de elementos extra tela.

A flexibilidade criada pelo som permite à Hernández ilustrar um cenário sinistro que logo é saturado e leva o filme a brigar pela atenção do espectador por toda sua duração. À favor, o longa tem o visual inspirado pelo expressionismo alemão, predominantemente em preto e branco, mas não é o suficiente para resgatar o ânimo criado nos seus vinte primeiros minutos. A Casa mostra-se como um belo planejamento que deve quanto ao desenvolvimento.

A Casa (La Casa Muda, Uruguai, 2010) de Gustavo Hernández

VÊNUS NEGRA


Intencionalmente implícito, Vênus Negra reconstitui os anos de sofrimento de Saartjie Baartman em Londres e Paris como parte de um freakshow comandado por seu ganancioso mestre Caezar. Rotulada de Hotentonte (uma espécie de mulher gorila), Baartman é levada à exaustão fisica e emocional pelo sonho atroz de uma vida melhor. E assim, Abdellatif Kechiche rege longuíssimas e repetitivas sequências (característica do cinema de Kechiche) ilustrando de forma crua como o sofrimento desta mulher viúva se confunde com a diversão do povo europeu e a falsa idéia científica que o racismo maquiado carrega.

Com o andar da narrativa, vemos Baartman perder suas raízes e sua identidade cultural para agradar seus “clientes”. O que fora um passatempo no início da projeção se torna um espetáculo voyeur conforme a gravidade das acusações do diretor aumenta – ao mesmo tempo em que satura a constituição do evento em tempo real, em detalhes, por mais dispensáveis que eles possam ser. Visceral por conta da atuação da estreante Yahima Torres, Vênus Negra divide sua ambiguidade com o espectador.

Se o filme nada mais é sobre o olhar, este registrado por Kechiche é denso e extremamente cansativo. Seus 166 minutos cortam todo laço de hipocrisia que a burguesia européia sustentou durante o século XIX – o lado puritano, religioso, justo e curioso; este último rende cenas de tom melancólico e imageticamente grotescas – e execram qualquer relação positiva com o mundo que Baartman viveu. Pena que ele continua o mesmo.


Vênus Negra (Vênus Noire, França/Itália/Bélgica, 2010) de Abdellatif Kechiche

MEIA NOITE EM PARIS


Nostalgia - s.f. Melancolia, tristeza causada pela saudade de sua terra. Saudade do passado, de um lugar, etc.

Se “nostalgia” se encaixa a negação do presente, podemos dizer que Woody Allen utiliza o árduo processo de criação de um autor como contraponto de seu irônico brainstorm sobre o peso do passado em Meia Noite em Paris.

Como em Vicky Cristina Barcelona, Allen vende Paris como um cartão postal animado, usando o brilho e charme da capital francesa como uma espécie de inspiração conflituosa para o roteirista Gil Pendler (Owen Wilson como alterego do diretor), que em seu limite, transpassa para o que chama de “era de ouro”: os anos 20. Lá, ele se encontra com pilares da arte que em Paris habitavam: Picasso, Buñuel, Dalí, Fitzgerald, para citar alguns. Esta viagem no tempo não serve só como representação da busca pela profundidade das palavras e da fuga do abismo intelectual que o separa de sua esposa Inez (Rachel McAdams); Allen nos leva ao delicioso devaneio sobre o valor das marcas que o tempo nos deixa – o processo de maturidade, de valorizar seus nuances e a tentativa melancólica de se viver em lembranças.

A aura fantástica de Meia Noite em Paris transparece a intenção maior da filmografia de Allen, que é a de compor uma realidade distinta, possibilitada pelo confinamento e a necessidade de reconhecimento e provação, mesmo que o diretor seja o único habitante deste universo. Tal raciocínio proporciona cenas hilárias como seu típico humor exagerado e inseguro oriundo das comédias stand up. Da previsibilidade – dentro do contexto – em utilizar a arte como escada para piadas, passando pela política e remédios antibióticos, vemos o processo de reinvenção dentro do modelo criado pelo próprio autor, ao utilizar a magia que sustentou filmes como Simplesmente Alice e A Rosa Púrpura do Cairo.

Se não bastasse para considerar Meia Noite em Paris como o melhor Woody Allen em muitos anos – certamente o melhor de sua fase européia -, o longa vai além da análise sobre a imposição do tempo e o desenvolvimento intelectual de um homem: trata-se de um divertido tributo às influências do diretor, que é claro na hora de representá-los e digeri-los para os espectadores: eles ultrapassam a dimensão temporal, mas não importam-se em dividir esta dádiva com novos artistas.


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, Espanha/EUA, 2011) de Woody Allen

SIMON WERNER DESAPARECEU...


Transgressor no ato de mapear suas referências, Fabrice Gobert opta pelo caminho contrário na hora de construir sua narrativa em Simon Werner Desapareceu...: o diretor utiliza uma metodologia contemporânea desgastada principalmente após a premiação de Paul Haggis por Crash – No Limite - ilustrar diversos pontos de vista sob o mesmo evento, costurando a unidade.

Títulos como Quase um Segredo e 2h37 são inevitáveis comparações, principalmente pela análise rasa do inconsciente coletivo adolescente e a forma implícita com que Gobert sugere o mistério explicitado pelo título do filme. Porém, Simon Werner desapareceu...guarda forças na duplicidade do roteiro: enaltecida pela obrigatoriedade do gênero e por anos de pregação hollywoodiana, a lógica estará pungente para quem a procura. Gobert guarda análises profundas em momentos reticentes reforçados pela trilha composta pelo grupo Sonic Youth – ligeiros e memoráveis, eles buscam digerir e justificar atos extremos.

E ao fim do primeiro ato, quando é constituída uma bifurcação à Gobert, o diretor toma o caminho mais fácil até o fim – ser representativo pelo imagético, tornar-se refém de soluções previsíveis, usando articulações de um modelo menos compreensível à primeira vista para contornar o que seria a maior problemática do filme: domar o espectador. Consegue, mas o leva à exaustão.


Simon Werner Desapareceu... (Simon Werner a Disparu..., França, 2010) de Fabrice Gobert

NAMORADOS PARA SEMPRE



Na lista de longas que analisam relações amorosas, Namorados Para Sempre é um filme intrínseco. De aura indie – fora o baixo orçamento, lá estão as raras inserções de trilha sonora não justificada e a narrativa intensamente calçada em conflitos -, a obra de Derek Cianfrance aborda o início e o fim de uma relação com a mesma ambiguidade do estado de espírito de seus protagonistas.

O incômodo é presente nas duas esferas; de lares cercados por traumas, Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams) são personagens tão fortes quanto a unidade. Ambos se assumem como vítimas do desamparo em todos os sentidos nos dois extremos do filme – daí a linearidade da narrativa. Tais características realçam o sacrifício de ambos para construir uma relação bem sucedida. Os momentos de afeto marcam a sensibilidade nas articulações do filme – o lado lúdico da conquista amorosa é ilustrado de forma tão convincente que colide com a melancolia intensa do texto.

Namorados Para Sempre destroça a brusca mudança de comportamento em momentos de rotina e crise, rendendo a cena mais tocante do filme – quando Dean tenta resgatar o sentimento esmagado pelo tempo. Cianfrance vai ao âmago do desgosto brutal de se ter promessas quebradas, no fácil desmoronamento de um mundo que fora construído com lágrimas e sangue e o apoio de entorpecentes para se dizer satisfeito.


Namorados Para Sempre (Blue Valentine, EUA, 2010) de Derek Cianfrance

X-MEN: PRIMEIRA CLASSE


Escalado para retomar a franquia X-Men, Matthew Vaughn (Kick-Ass – Quebrando Tudo) contou com a ajuda de quem entende do assunto para criar uma obra que liberte os mutantes do peso de dois fiascos cinematográficos seguidos: Bryan Singer (diretor dos dois primeiros  e melhores filmes da saga) e Sheldon Turner utilizaram as mesmas articulações usadas nos gibis para compor a história – posteriormente lapidada pelo próprio Vaughn e sua equipe –, que segue convenções imagéticas contrárias à proposta do texto.

X-Men: Primeira Classe esquiva-se de planos fechados e do clima soturno comuns nas HQ’s para seguir o tom de uma aventura épica. Vaughn trata de apresentar aceleradamente os conflitos e elaborá-los durante a narrativa, pontuada por ligeiras cenas de ação e o desemboco no clímax bem estruturado e representativo para quem conhece a história dos mutantes - apesar do filme quebrar a cronologia original das HQ's. Todos os personagens, com exceção de Xavier (James McAvoy), se mostram afetados pela posição da sociedade à mutação genética. A abordagem deste conflito geral é “profunda” como um pires; perde-se a oportunidade de se debater assuntos políticos de forma mais intensa e implícita do que a problemática utilizada no roteiro – guerra nuclear, o mundo em perigo, enfim...o de sempre.

A guerra fria rege o filme e costura muito bem a esfera fantástica exigida, mas não se equivale à importância dada à reintrodução e figuração dos personagens, resultando em uma unidade mais espetaculosa e menos engajada ao próprio roteiro. Por outro lado, Vaughn tem um elenco e tanto a seu favor, potencializando e muito os fios narrativos, livrando X-Men: Primeira Classe de cair na pieguice.


X-Men: Primeira Classe (X-Men: First Class, EUA,2011) de Matthew Vaughn

UM LUGAR AO SOL


Ao visitar moradores de coberturas luxuosas de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, o diretor Gabriel Mascaro leva Um Lugar ao Sol ao inevitável cerne: a discussão da posição geográfica em relação ao poder e ao status. E o que vemos são quadros agudos de insegurança, apresentados de formas distintas.

Com o crescimento do mercado imobiliário e o valor do metro quadrado, Mascaro alerta para o futuro: um mundo sem identidade e guiado por excentricidades. Em comum, os depoentes têm o topo do prédio e visões extremas da realidade. Alguns iniciam seus discursos com os pés no chão, costurando naturalmente – sem pedido do diretor, reforçado apenas pela montagem de Marcelo Pedroso, diretor do ótimo Pacific – o lado social do debate, até atropelarem suas opiniões com alguma intolerância. É importante ressaltar que se trata de um filme aberto, em que a equipe entra na residência do personagem, liga a câmera e o deixa falar sobre a vida em uma cobertura, criando, assim, qualquer possibilidade e rumo para o resultado final. Numa específica cena esta proposta fica evidente junta à malversação das palavras e o abandono do quadro da câmera, onde a religião é o tema discutido.

Alguns entronizam o espaço, outros a vista, a privacidade e até a guerra de favelas rivais como espetáculo visual, mas no fim, chegam a uma só conclusão com o mesmo discurso distorcido de antes. Um Lugar ao Sol é eloquente por ceder as articulações do roteiro aos personagens – todos, em suas análises sociais e existencialistas, apresentam conflitos e os resolvem. Nem sempre para o bem.

Um Lugar ao Sol (Idem, Brasil, 2009) de Gabriel Mascaro

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