360


Esqueça o elenco estelar de 360. Seu vértice é a identidade de Fernando Meirelles, idolatrado por filmes dirigidos em parceria, no caso Domésticas (Nando Olival) e Cidade de Deus (Kátia Lund). Seu novo filme é o reencontro com o lado publicitário, anti-autor, de funcionalidade e de finalidade simples: puro entretenimento.

Sendo assim, Meirelles abusa do conhecimento que espelha macetes desgastados no cinema de gênero nos últimos anos: roteiros e planos fragmentados, em moisaco, com fusões de péssimo gosto e que, ironicamente ou não, buscam a idéia de ciclo (o tal 360). Esqueça o o homem inventivo que seguiu uma galinha com a câmera presa a um cabo de vassoura; atrele sua expectativa ao significado literal da palavra “diretor”.

Inspirado no texto do dramaturgo Arthur Schnitlzer e rondando relações amorosas, traições e traumas, o filme de Meirelles não foge do resultado magro; tramas paralelas e igualmente marginais, de bordas, não reforçam o filme em qualquer sentido. Fica a impressão que 360 foi um longa feito unicamente para atores, para exercício de misè en scene com nomes relevantes do mainstream internacional e nacional.

Cabe a análise da carreira de Meirelles como produtor, publicitário ou até mesmo uma retrospectiva de seus filmes antes de assistir 360, com amplitude de linguagem e senso fílmico. Pois seu novo filme faz parte de uma linha ao não esconder acessibilidade, de desagregar o cinema e torná-lo em organização e produto.

360 (Idem, Reino Unido/Austria/França/Brasil, 2011) de Fernando Meirelles

O EXERCÍCIO DO PODER


Produzido por Jean Pierre e Luc Dardenne e dirigido por Pierre Schöller, O Exercício do Poder é uma obra dedicada aos diálogos onde câmera e elenco dançam conforme a força das palavras. Como a intenção maior é a irônica denuncia da (dis) funcionalidade política francesa a partir de um desastre automobilístico,o filme de Schöller - que ganhou a mostra "Um Certo Olhar" no Festival de Cannes de 2011, segue à risca da idéia de ciclo, de conto e alinha realidade apenas quando resolve debochar de seus personagens.

Bertrand Saint-Jean é a epítome do frágil sistema: ministro dos transportes com assessoria funcional – que transparece o jogo burocrático que envolve até mesmo uma tragédia -, com casamento falído, sem amigos e temoroso. Suas baixas nunca estarão em primeiro plano. Schöller sabe como ilustrar a barreira necessária para seu protagonista sobreviver.

O Exercício do Poder é um filme pequeno em execução, porém guarda forças extraordinárias em seu tema e desenvolvimento como narrativa e não exige de seu espectador percepções aguçadas para construir a idéia do caos no sistema político francês.

 
O Exercício do Poder (L'Exercice de L'État, França, 2011) de Pierre Schöller

MULHER À TARDE

A nova safra de cineastas de Minas Gerais provavelmente é a mais fértil do país. Seja nos documentários (Marília Rocha é um bom exemplo) ou ficção (Dellani Lima, Tiago Mata Machado), o estado se iguala ao Ceará como o mais entusiasta e produtivo em obras audiovisuais independentes. E o melhor: o mesmo pode ser dito sobre a qualidade.

Mulher à Tarde de Affonso Uchoa segue o método do cinema conquistado na raça: com ajuda de amigos, roteiro adaptado aos recursos e experimentalismos. Através da câmera estática, Uchoa cria uma obra em constante desconstrução. Nas longas sequências, o filme dá indícios a analise de uma crise emocional entre três mulheres que dividem um apartamento. O roteiro guarda a interessante multiplicidade de possibilidades para as personagens que entre o silêncio e diálogos vazios, revelam uma relação torta e sem intenções claras.

Dividido em capítulos meramente ilustrativos, Mulher à Tarde subverte a dimensão do tempo com cortes secos durante a ação, enquanto expõe a irônica inerência das personagens, dormentes e solitárias dentro de um mesmo cômodo.

A atividade de contemplar o desmoronamento emocional destas mulheres satura-se quando motivações são implicitamente colocadas em pauta, prolongando-as e caindo em redundância por articular o lírico e o prosaico da mesma maneira.


Mulher à Tarde (Idem, Brasil, 2010) de Affonso Uchoa

A TENTAÇÃO

A Tentação parte do princípio de uma análise do diretor e roteirista Matthew Chapman sobre conflitos pessoais usando a doutrina cristã como eixo. A pressão que logo inclina reações caóticas vem dos mandamentos. Porém, Chapman se esquiva do julgamento dentro da filosofia “ser ou não ser” de Hamlet.

Para se tornar num thriller-erótico, Chapman faz de um caso extraconjugal o centro da teia movida à base da consequência e temor à palavra de Deus. A terra se equivale ao céu e ao inferno em rápida mudança de planos. Porém, as idéias de Chapman – funcionais em totalidade – não pulsam. A mise èn scene é apática e transparece a fragilidade do texto. A falta de química entre Patrick Wilson, Liv Tyler e Charlie Hunnam é impressionante. A escolha de Chapman em seguir um gênero exerce função apenas em tom e na mudança de tempo narrativo - representado pelo personagem de Terrence Howard como mediador narrativo.

E assim A Tentação segue até o fim. Morno, funcional, sem armadilhas por se deitar na zona de conforto do gênero conhecido por instigar e angustiar o público. Curioso, pois o filme de Chapman não exerce nenhuma dessas funções.

A Tentação (The Ledge, EUA, 2011) de Matthew Chapman

BEL AMI - O SEDUTOR


Disposto a banalizar o arquétipo original de 1939 dirigida por Willi Forst , Declan Donellan e Nick Ormerod compõem um filme sem identidade. Fica evidente em seu prólogo que os diretores estão presos a simples questão que definiria (ou justificaria) sua existência – trata-se de uma proto-sátira ou o retrato simples de uma época?

Para representar a Belle Époque, Ormerod e Donellan fizeram um filme sem eixos; ação e reação e causa e consequência definem o ritmo narrativo. Mantendo como cerne, assim como o filme de Willi Forst, o poder de sedução de Georges Duroy (Robert Pattinson) para potencializar a esfera política da época – apoiada no sexo como moeda de troca e com abertura para análise da moral e poder -, e colocar a vingança como primeiro plano.

A estrutura irregular desfoca as percepções de unidade; Bel Ami é um filme sobre um ponto de vista, uma história biográfica que pelas tantas se encontra com o externo - a história de todos, que ilustra outro encontro, dessa vez o da imposição dos diretores em emoldurar o período histórico. Este formalismo é o antagonismo que faltou por toda duração, afinal, todos os personagens parecem fazer parte do fluxo de um mundo sem emoções.

 
Bel Ami - O Sedutor (Bel Ami, Reino Unido/Itália/França,2012) de Declan Donellan, Nick Ormerod

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