FROST/NIXON


O apresentador de talk show sem credibilidade David Frost (que é britânico) não só investiu o futuro de sua carreira, mas também todo seu dinheiro para entrevista Richard Nixon e em troca conseguiu um dos momentos mais marcantes na história dos Estados Unidos, imortalizado e dirigido pelo metódico Ron Howard, mas que sabe agradar à todos e ganhou a indicação de melhor filme no Oscar deste ano.

Richard Nixon deixou o país traumatizado e renunciou a presidência após inconseqüentes escolhas e se envolver em escândalos, principalmente o que o levou a renuncia e o mais famoso deles: O Watergate, este que provava que o presidente tinha conhecimento das operações ilegais contra a oposição durante a campanha eleitoral. Nixon havia sido eleito pela maioria esmagadora durante a eleição e foi poupado por uma anistia. Já Frost, a beira da falência, acompanhou a renuncia de Nixon da Austrália, único país que ainda o mantinha nas grades de programação. A beira da falência, Frost resolveu cruzar o mundo e sem apoio de nenhuma emissora e patrocínios, teve que investir todo seu dinheiro para entrevistar o ex-presidente dos Estados Unidos.

O grande foco do filme está na ousadia de Frost, mas também garante o trunfo para os momentos seguintes, onde estudamos a personalidade do entrevistado e do entrevistador, com um roteiro dinâmico e atores muito bem preparados.

A premissa era de uma luta, um combate entre um inexperiente lutador contra o dono do cinturão, e não de uma entrevista. Ela teve regras, movimentos estudados pelos dois lados e intimidações feitas também pelos dois lados. Pelo lado de Frost, vivido por Michael Sheen, elas eram mais explícitas, porém um número muito menor, pois o poder estava nas mãos de Nixon, vivido pelo sensacional Frank Langella em uma atuação incrível. A mídia divulgava a entrevista muitos dias antes e a tensão foi aumentando a medida que a hora do primeiro dia da entrevista se aproximava. Frost, sempre inseguro quanto a sua aposta, tinha uma equipe corajosa, já o frio Nixon, uma calculista equipe.
Aos poucos vamos conhecendo o que cada um pensa e vive, de fato estudando a personalidade de cada um, conhecendo aos poucos cada oponente e suas fraquezas. É impossível não se envolver com uma história tão absurda e humana ao mesmo tempo. A cada intervalo da entrevista, vemos o cuidado dos assessores, que opinavam e cuidavam da imagem de cada um, como uma luta de boxe em proporções e emoções equivalentes. E nos dias que intercalavam as entrevistas, os conflitos continuavam o que deixa o filme mais humano e ritmado.

Howard comanda o filme com competência, no seu já clássico “método cinematográfico”, mas mesmo assim, consegue fazer um filmasso, focado em pequenos detalhes que também podem ser grandes como um monstro. Frost/Nixon é o registro de um momento importantíssimo para os Estados Unidos, um momento de acerto de contas com a sociedade, esta que soube se segurar nos momentos difíceis, porém não mediu esforços para tirar quem comete injustiça, mesmo que de uma forma educada, algo que Nixon teve sorte de lidar.


FROST/NIXON (Idem, EUA/Inglaterra 2008.) de Ron Howard

WHAT WE DO IS SECRET


Citado entre os vinte maiores filmes “punks” da história pela revista Premiere e posteriormente na matéria O Punk na Tela aqui postada, o longa What We Do Is Secret faz jus as indicações e é uma das mais fiéis e centradas cinebiografias sobre um ícone musical.

Derby Crash tinha um plano de cinco anos, influenciado por David Bowie, de criar um fenômeno e terminar rápido. Assim como Kurt Cobain, Crash também achava que era melhor evaporar antes de virar um peso. E assim Derby Crash junto com seu amigo Pat Smear (hoje guitarrista dos Foo Fighters) eles formaram os The Germs. Crash cresceu entre as loucuras da mãe, a perda do irmão e do pai, mas isso é o que podemos refletir e concluir rapidamente para as atitudes de Crash, mas o filme nem de longe quer centrar em dramas e muito menos se aprofundar neles para uma narrativa “Hollywoodiana”.Os Germs cresceram através do marketing, pois eles não sabiam tocar seus instrumentos e não ligavam para a política. E para piorar, Crash tendia para o fascismo pois só assim as coisas funcionariam, segundo o próprio.

Intercalando o processo de ascensão e queda obrigada – pois eles foram banidos de todos os clubes de Los Angeles - dos Germs, vemos a vida de Crash sem um mergulho proposital, mas suficiente para tirarmos nossas conclusões, recheado de diálogos ácidos e humor negro. Crash propôs e viveu o caos e seu plano foi posto em prática. O elenco está à vontade em frente à tela e a direção de arte foi competente ao manter a fidelidade da época, sem escorregões. A direção de Rodger Grossman é competente, porém, não se arrisca. Faz muito bem o que é proposto, mas não ultrapassa a linha da ou
sadia por momento algum e isso também vale para a técnica em geral do filme.No mais, What We Do Is Secret é um ótimo filme sobre uma trágica história que sempre esteve em ebulição. Sempre nos limites de uma vida determinada e com data para acabar.


Dinâmico, simples, sem frescuras e draminhas meia-boca. Vai direto ao ponto e resolve-se com facilidade e inteligência e usa o conflito principal de Crash como uma bonita metáfora, explícitamente cuspida ao final do filme, mas também se preocupa em mostrar delicadamente tais conflitos e analogias durante o filme.

What We Do Is Secret (Idem, EUA 2008) de Rodger Grossman

MILK - A VOZ DA IGUALDADE


Sem atrativos estéticos maiores, porém com toda sua força concentrada no roteiro e principalmente nas atuações, Milk – A Voz da Igualdade, novo filme de Gus Van Sant, vem com grandes chances de ganhar indicações ao Oscar deste ano.

Harvey Milk foi um ativista homossexual que lutou para fazer a diferença não só dos homossexuais, mas das minorias como um todo. Milk enfrentou o preconceito violento da polícia e a crueldade de religiosos e políticos que diziam seguir a risca a palavra de Deus. E com muitas ameaças de morte, ele gravou um discurso, sozinho em casa e é dele que vem o roteiro para acompanharmos a história do ativista, este que vem intercalado por elipses para nos situar na história, algo que não seria muito necessário, mas de qualquer jeito tem o apelo dramático necessário para um envolvimento maior.

O filme não tem a beleza absurda de outros filmes de Gus Van Sant, como Gerry (uma grande homenagem à Antonioni) ou o show de imagens do mais recente Paranoid Park, mas Van Sant tem a preocupação em manter um trabalho fotográfico competente, principalmente em cenas à noite e no uso de planos detalhe.

Mas o que certamente faz o filme andar é o carisma de Sean Penn, muito fiel ao verdadeiro ativista, comovente e também muito a vontade em cena, sem perder o peso e a intensidade de um personagem como esse. Os coadjuvantes James Franco e Emile Hirsch também mantêm a intensidade criada no roteiro em seus personagens e Diego Luna está bem como o lunático namorado de Milk. Mas não deixa de ser uma cinebiografia linear e sem muitas novidades para o gênero. Josh Brolin, como Dan White é a oposição em carne e osso em uma inspirada atuação.

Milk tentou por diversas vezes chegar ao poder como supervisor da ponta de Castro, situada em São Francisco – esta que depois virou referência para os homossexuais - para fazer a diferença e como uma grande resposta ao preconceito mandato foi grande. O filme mostra ao contar a história dos últimos anos de vida de Harvey Milk um grande protesto pela igualdade e pelo direito de todos de ter uma vida digna sem importar a escolha de cada pessoa, ainda mais em um país como os Estados Unidos.
MILK - A VOZ DA IGUALDADE (Milk, EUA 2008) de Gus Van Sant 

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON


Com ares de superprodução e que parecia ser mais um roteiro excêntrico para uma competente direção de David Fincher, o filme O Curioso caso de Benjamin Button é uma reflexão e celebração à vida, sem exageros dramáticos, apresentando um diretor realmente versátil, Brad Pitt afiado até mesmo para ser apático e Cate Blanchett talentosa como sempre.

Seguindo a risca o nome do filme, acompanhamos o a vida de Benjamin Button, que nasceu com problemas no corpo semelhantes à de um idoso de oitenta anos e tem a vida literalmente vivida ao contrário. Abandonado pelo pai com poucos minutos de vida, Benjamin foi criado em um asilo, mas o que poderia criar alarde e curiosidade por parte dos vizinhos, ciêntistas e da mídia simplesmente não acontece. Talvez o sensacionalismo foi deixado de lado para mergulharmos na humanização total do personagem vivido por Pitt e os efeitos desse curioso caso são deixados de lado.

Benjamin vai ficando mais jovem e vai vendo seus amigos e familiares perderem a vida e como consequência uma base estável, mas é algo que ele esteve preparado, pois sabe que não poderia amar todos para sempre. O costume das perdas e valores é tocada. Morte natural ou não, ou apenas o abandono. Seja ela traçada por Deus ou pelo acaso. A morte aqui é um personagem. É através dela que temos a referência para a narração da vida de Benjamin. Mas ele tinha um motivo para acordar todos os dias, o filme usa tal narração reforçada por elipses bem montadas, onde os fios narrativos são comandados pelo amor, obviamente.

Button aproveitou a vida como pode numa espécie de Forrest Gump, tão recluso e apático quanto o personagem de Tom Hanks, porém mais astuto em certas ocasiões e nos mostra que mesmo com tudo que passamos pela vida, tudo volta para o seu devido lugar, onde realmente deveriam estar, mesmo quando tentamos mudar o curso natural da vida. E o auge dela é provavelmente a mais interessante e também a mais próxima com o filme de Robert Zemeckis, aqui tratado com a medida certa entre o humor e o drama. Reencontros são permitidos e apropriados para mais lições e analogias. Button não mediu esforços do corpo e de seu espírito e desbravou o amor e a guerra, literalmente falando, construídas por cenas de uma beleza estonteante e um trabalho de maquiagem impressionante.

Mesmo com a previsibilidade em momentos importantes para a trama que é linear por três horas, o filme comove. Button foi até onde sua idade permitiu, no caso, até quando tinha maturidade suficiente para enfrentar a vida sozinho. O filme é muito bem construído e de técnica invejável e coloca David Fincher no topo novamente após o tropeço em Zodíaco, lugar este que Fincher não deveria ter saído.

★★
O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (The Curious Case of Benjamin Button, EUA, 2008) de David Fincher


A TROCA

O que falta no novo longa de Clint Eastwood, A Troca, é o sal. E explico tal afirmação, pois Eastwood é um mestre e não há como negar, mas o roteiro de J. Michael Straczynski para adaptar a real história de Christine Collins, que tem o seu filho raptado e após meses de espera, quando tem seu filho de volta, suspeita de que o menino não seja o seu verdadeiro filho é irregular, dividindo o filme em tópicos e gêneros diferentes.
Por sinal a primeira e que se encaixa na sinopse acima é a melhor, onde Eastwood esbanja uma elegância ímpar em movimentos de câmera, amarrada e mostra Angelina Jolie em sintonia com a história em um drama envolvente. Mas com o andar da história isso se perde e vemos propositalmente uma estagnação emocional vinda da parte de todos os personagens, que são colocados a situações monstruosas, porém, sem que isso se eleve para o espectador, este que assume o posto sugerido por Eastwood.

Porém essas situações têm o mesmo alvo, que é Christine Collins, personagem de Jolie. Pois a polícia de Los Angeles, incompetente, forja o resgate do garoto e durante a segunda parte do filme, vemos Collins tentando provar de todas as maneiras que não é de fato o seu filho. Para passar por cima da polícia, Christine é submetida a situações que fariam o espectador criar um elo maior com a personagem e uma revolta natural, na parte sugerida como um filme político, onde temos o bem e o mal separados explicitamente representados por um pastor interpretado por John Malkovich e o chefe de polícia de Los Angeles, interpretado por Colm Feore, canastra como o seu personagem deve ser, mas sem o tal sal que falta, continuamos como meros espectadores.

Para o desfecho, temos algumas analogias e o retorno do fôlego adquirido nos primeiros minutos do filme, mas não por completo. A forma que a justiça é tratada é interessante e Jason Butler Harner vem tapar o buraco que faltou por quase toda a história e Jolie consegue entrar em sintonia com sua personagem. Eastwood comanda por todo filme com a citada elegância, mas nem o peso de sua direção consegue o salvar por completo o roteiro, que oscila muito não apenas nos gêneros, mas se perde entre a morna estagnação emocional e uma justiça envolvente separadas em tópicos.

★★
A TROCA (The Changeling, EUA, 2008) de Clint Eastwood

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?

Vencedor da escolha dos críticos de Los Angeles, o maior termômetro para os indicados ao Oscar e agora também do Globo de Ouro, o longa Quem quer ser um Milionário? do diretor inglês Danny Boyle é o maior exemplo que a competência e bom senso podem tomar guarda e cativar o público mesmo com a promessa de um final previsível, o filme não apenas é um ode à superação, mas uma obra sobre escolhas.
Ao contar a história de Jamal Malik, um garoto que veio da favela e virou o improvável vencedor do programa “Who wants to be a millionaire?” e cadenciando com muita coerência - através de uma edição clichê, porém, funcional - a saga do rapaz no programa com a história do mesmo até sua ida ao programa, Boyle consegue domar o público com uma direção exemplar, sem oscilar ritmo e mas deixa de arriscar em planos. O filme registra a diferença social na Índia com maestria aliado a uma bela fotografia e um elenco em sintonia, o que parece realmente é que o filme veio embalado e pronto para o sucesso, deixando claro que Boyle esta mais para o diretor de Caiu do Céu que o diretor consagrado por Trainspotting.

Surpreendendo à todos ao acertar perguntas que médicos, escritores e outros não acertaram, Jamil é acusado de fraude. Mas para sabermos o que aconteceu com Jamil para acertar essas perguntas que o levariam ao prêmio final, acompanhamos a infância no bairro pobre de Mumbai, cidade da Índia, a tensão social, a xenofobia e a urgência pela sobrevivência fizeram que Jamil e seu irmão Salim escolhessem seus caminhos muito cedo e sem consciência das conseqüências. A adolescência, onde a malícia e o amor são descobertos e questões existenciais são tratadas com delicadeza, mas sem que vire um drama. Os irmãos são submetidos por conta da sobrevivência a situações de risco e outras que só a ousadia de quem cresceu rápido demais pode fazer, sem esquecer o lado bom e sem fazer da vida dos irmãos um pesadelo completo.

Com o mundo indo contra suas escolhas, Jamil teve que lutar e muito para chegar até o seu objetivo – que não vale se citado para não estragar o filme – que para muitos já não vale mais que o prêmio final de um programa de TV.

★★★★


Quem quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire, Inglaterra, 2008.) de Danny Boyle

PAGANDO BEM, QUE MAL TEM?


O novo filme de Kevin Smith, lançado aqui com o “belo” título de Pagando Bem, Que Mal Tem? (em inglês Zack and Miri Make a Porno), aparentemente confirmava uma nova era para o diretor, que se desligava do seu grupo seleto de atores, que o seguiram durante todos os seus filmes e que também se renderia de vez para o cinema majoritário americano, algo que Smith tem ensaiado há anos, iniciado no fraquíssimo Menina dos Olhos.
 
Mas Kevin Smith apresenta um filme que o mostra ainda em cima do muro. O filme ainda possui o escracho natural dos filmes do diretor, algo que não é fácil de ser digerido por muitos, mas também tende a comédias “Americanas” atuais, não apenas esteticamente falando e também pelo uso de um prólogo que não dá chances para a imprevisibilidade do roteiro.
 
Zack e Miri são amigos muito próximos há muitos anos e dividem um apartamento, mas não tem dinheiro para pagar as contas. Com muitas dívidas para pagar, na tradicional reunião de ex-alunos, Zack descobre em uma seqüência hilária, que a indústria pornográfica rende bons lucros. Sem muitas saídas, os dois resolvem produzir filmes pornográficos e é lógico que ai o filme toma corpo e cria-se o centro maior das piadas e das situações bizarras. Elas não soam apelativas como um besteirol, algo que Smith sabe fazer bem, mas não espere algo inovador. Seth Rogen se encaixa perfeitamente no papel e parece muito a vontade, mas Elizabeth Banks não parece ter uma ligação completa com sua personagem, criando uma irregularidade na química dos atores.

Jeff Anderson e Jason Mewes voltam nos papéis de produtor e ator pornográficos respectivamente, ambos muito bem em cena como de costume. Jeff e Jason são mais conhecidos como Randal Graves e Jay dos velhos filmes de Smith.

Entre uma ou outra piada mais delicada, sobrando para até para a Dreamworks e outras que remetem a filmes antigos do diretor, como o famoso e clássico debate sobre racismo em O Balconista II, a jornada pornô-romântica dos amigos dura muito para chegar onde o público já sabe desde os cinco primeiros minutos de filme, que acaba caindo em repetitivas situações para forçar uma piada aqui ou ali. O filme é infinitamente superior a uma comédia contemporânea da terra do Tio Sam, mas pensando nas outras obras de Smith, algo impossível de não fazer, vemos um diretor indeciso ainda sobre qual caminho tomar.
O filme entra em cartaz no dia 16 de Janeiro no Brasil.

★★

Pagando Bem, Que Mal Tem? (Zack and Miri Make a Porno, EUA, 2008) de Kevin Smith

JCVD

Um astro com sua vida profissional e pessoal em crise resolve voltar para casa e tentar reconstruir tudo em sua terra natal. Estamos falando de ninguém menos que Jean Claude Van Damme e seu novo filme JCVD. Mas o que parecia a principio ser um dramalhão Mexicano vira um inteligente protesto e antes de tudo, um desabafo de um ator.
 
Van Damme interpreta a si mesmo, que participando filmes de baixo orçamento com produtores gananciosos e perdendo a guarda da filha nos Estados Unidos, volta a Bruxelas, na Bélgica, onde o ator nasceu e é feito de refém em um banco, mas para a mídia, ele é o mentor do seqüestro.

 A estética é uma cópia exata do que vemos nos filmes Europeus contemporâneos e a direção que consegue dosar com louvor a dinâmica de Guy Ritchie com momentos mais introspectivos como de Michel Haneke em Caché, por exemplo... E digo isso sem exageros, pois tudo é feito de propósito e totalmente inesperado. Pois até certo momento, vemos um bom filme sobre um seqüestro em um banco, sem muita relevância do porque Van Damme interpretar a si mesmo, apenas com questionamentos levantados sobre a veracidade e confiabilidade da mídia e o culto a imagem.

Até que Van Damme vira-se para a câmera e esquecemos a trama para um desabafo, mas sem se desligar por completo da história. Van Damme explica sua vida, seu desdém a posição de Hollywood aos atores, sua luta já vencida contra o vício das drogas e julgamentos vindos da mídia. O ator olha e mantém um diálogo direto com o espectador, usando a câmera como o veículo mais ágil e anárquico, algo que só o cinema pode nos oferecer.

A história é separada por tópicos, com nomes como “Resposta antes da pergunta” e “Ovo que cai em pedra”, para citar alguns, com a lógica referência dos métodos de construção de roteiros nos dias atuais e que ainda funcionam. Um jeito bastante irônico de se construir um filme para quem sempre foi de cair em clichês de filmes de ação, gênero que enquanto estava em alta, Van Damme tinha sua utilidade. Cada cena parece mostrar um desabafo e tudo feito com bastante precisão e até para a resolução da história, o deboche continua. E com a direção inteligente do Belga Mabrouk El Mechri, JCVD não é uma volta por cima e sim um grande dedo do meio para a indústria cinematográfica.

★★★★
JCVD (Idem,Belgica, 2008) de Mabrouk El Mechri

Entrevista com Chris Fuller (Loren Cass)

Chris Fuller é um diretor Americano, que levou cerca de oito anos para concluir seu primeiro projeto chamado Loren Cass, que retrata o vazio dos jovens após as rebeliões que aconteceram em São Petersburgo em 1996 e começou a ser escrito quando Chris tinha apenas quinze anos. O filme foi lançado por sua própria produtora, a Jonesing Pictures e foi exibido em alguns festivais pelo Brasil em 2008. Após o filme correr o mundo chocando e ganhando prêmios em festivais, Loren Cass marca um diretor ousado e com um futuro promissor. Tive a chance de conversar com Chris, onde ele fala sobre o filme, Brasil, projetos futuros e vocês conferem o papo abaixo:

Cinema O Rama: O filme começa com a frase “O ano era 1997”. Doze anos depois, como você define o cenário após as rebeliões em São Petersburgo? Teve alguma mudança significativa?

Chris Fuller: Eu diria que não mudou muita coisa, Pedro. Por exemplo, em um dia de filmagens, mais rebeliões aconteceram. Parece um mundo diferente naquela parte da cidade. Eu não sei se isso um dia vai mudar, a cultura é muito diferente naquele lugar por conta desses fatos. Mas parece que depois das rebeliões de 1996, os policiais tomam cuidado em dobro por onde andam. As recentes rebeliões na Grécia após o assassinato de um jovem por um policial provam que não é um problema nativo da Florida e que pode acontecer em qualquer local onde existir abuso de poder e certamente com conseqüências nada agradáveis.

Cinema O Rama: Como apareceu a idéia de convidar Keith Morris e Blag Dahlia para narrar o filme? As locuções são muito bem colocadas e funcionam como um personagem, um guia mais básico que os diálogos, mesmo abstratos. Eles tiveram um envolvimento maior com o projeto?

Chris Fuller: Eu quis que os heróis da minha juventude colocassem uma textura a mais no filme com o trabalho de áudio. O Blag e o Keith influenciaram muitas pessoas com suas músicas e foi muito legal da parte deles terem vindo até São Petersburgo para contribuir com o filme. Eles certamente influenciaram nos personagens que eles interpretam apenas com a voz e ouvir Blag e Keith me pareceu uma boa idéia de fugir do método tradicional de narração para um personagem, assim como os discursos políticos inseridos.

Cinema O Rama: Você conhece algo do cinema Brasileiro?
Chris Fuller: Infelizmente não, mas estou correndo atrás disso. O único cineasta Brasileiro que eu realmente sou familiarizado com o trabalho é o Walter Salles. Mas meu próximo projeto provavelmente será no Brasil, portanto conhecerei mais do cinema brasileiro e da cultura do país.

Cinema O Rama: Qual o real significado de “Loren Cass”?
Chris Fuller: Eu quis dizer muitas coisas com esse nome, mas elas são muito complexas para explicar com palavras, acredito que as pessoas entenderão o que eu quis dizer após assistir o filme.

Cinema O Rama: Conte-nos um pouco da história do filme, desde a criação até o dia de sua estréia.

Chris Fuller: Para a história completa de Loren Cass eu passaria dias aqui falando pra você. Recentemente nós atualizamos o site do filme e eu recomendo que visitem a parte “About the Film” que conta o processo de criação dos roteiros, das filmagens até o lançamento do DVD que será em 2009. CinemaO Rama: Você começou a escrever Loren Cass com quinze anos. Você faria um remake do filme? O que você faria de diferente no roteiro, captação de recursos e etc?

Chris Fuller: Certamente eu nunca faria um remake de Loren Cass. Eu não acredito em refilmagens em geral. Eu consegui exatamente o que eu queria com esse filme. Nós tivemos problemas com tempo e dinheiro, logicamente, até porque esse foi o meu primeiro filme, mas deu tudo certo e eu estou muito feliz com o resultado. Mesmo com uma infra-estrutura de milhões de dólares eu faria exatamente do jeito que eu fiz.

Cinema O Rama: Aproveitando...Conte sobre seus novos projetos!

Chris Fuller: Estou planejando novos filmes, no momento estou trabalhando em dois roteiros e um deles será rodado no Brasil. Vocês podem dar uma olhada no site da minha produtora para novidades e detalhes.

Cinema O Rama: Alguma mensagem para os Brasileiros?

Chris Fuller: Eu sou fascinado pelo Brasil. Os Brasileiros e a cultura que eu realmente preciso aprender mais sobre, inclusive o cinema! Obrigado pela ajuda com Loren Cass e o interesse de todos pelo filme e obrigado pelas perguntas e feliz 2009 a todos!
Para ler a resenha de Loren Cass, clique aqui.

LANCHONETE OLYMPIA

Após dirigir vídeo clipes para David Bowie, Michael Jackson e o clássico Coneheads, Steve Barron aposta em uma história mais introspectiva e impecável cinematograficamente falando em seu novo longa.
 
Lanchonete Olympia, que foi exibido no Festival Indie e entrou em cartaz no último final de semana de 2008 em poucos cinemas, registra o cotidiano de um falido restaurante que fica em um local chamado Jamaica, no Queens, bairro de Nova Iorque. Lá, segundo o dono do restaurante, você pode aprender mais línguas que qualquer outro lugar do mundo. E é nesta lanchonete que o Equatoriano Jorge trabalha lavando pratos. Sempre calado, muito envergonhado, Jorge se apaixona pela recém chegada Amy, uma comunicativa e cativante garota Chinesa.

A ansiedade social de Jorge o leva para um mundo que vai além de um homem sufocado pela rotina e pela timidez. Jorge guarda algo dentro de si e que só ele pode enfrentar, quando abre a porta de seu apartamento. Algo que todos temos e vai além de nossas visões. Mas a tormenta do rapaz aumenta quando seu colega de trabalho Jerry começa a o ameaçar e também se interessa por Amy.

Mesclando animação nos momentos mais críticos para Jorge a fim de acentuar emoções e um bom jogo de planos e detalhes bonitos, Barron proporciona um belo espetáculo cinematográfico, seguindo a já tradicional cartilha do cinema independente Americano, mas que não segura o roteiro que certamente funcionaria melhor para um filme média metragem. A condição de vida dos estrangeiros e minorias no Queens é mostrada em momentos de extrema sutileza, mostrando o sufoco social de ambos os lados, em uma gigantesca metáfora com o título do filme em inglês, mas o roteiro não se sustenta por todo o longa, transparecendo redundância, que pode vir a cansar o espectador.
 
Lanchonete Olympia (Choking Man, EUA, 2006) de Steve Barron

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