TOY STORY 3

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Lembro-me da minha sessão de Toy Story. Era a pré-estreia do filme e eu estava maravilhado em estar fora de casa após às onze da noite. Bom, era 1995 e eu tinha onze anos de idade. Os anos passaram e boa parte do público que acompanhara Woody e seus amigos soube como é difícil crescer. Lee Unkrich tão bem sabe disso que a terceira e última parte de Toy Story é concebido por este conceito. As crianças e jovens que acompanharam o embrião da Pixar (hoje uma companhia da Disney e grande fonte de renda de Hollywood) chegar às telas se identificarão com um poço de referências em relação à um tempo em particular.

Unkrich vai da boneca Barbie  e  seu namorado (e hilário) Ken até o carismático Totoro de Hayao Miyazaki para abranger essa idéia. Com este entorno, o diretor constrói um filme prioritariamente de gags sobre um fiapo de trama que aos poucos se expande pela óbvia carga emocional que o desfecho de uma saga carrega. Ou seja, é uma situação chamada de vencer ou vencer. Ficar indiferente às idéias e conceitos de amizade e família seria um ato completamente em vão.

Relacionar seus personagens com o real multiplica os efeitos.  É resgatar uma magia primordial do cinema:  seja para rir ou para chorar, acreditamos que os brinquedos, de fato, tem vida. Mas, em geral, o que apetece a Toy Story 3 são as jogadas de sempre; temos uma aventura com o ritmo de sempre, a história é similar aos outros dois filmes, a construção de novos personagens também remetem ao filmes passados e as mesmas escadas para piadas são utilizadas. Mas, como disse anteriormente, ser indiferente é impossível. Mesmo com sua força concentrada nas gags, Toy Story 3 é um desfecho bonito e merecido para Woody e sua trupe.

Toy Story 3 (Idem, EUA, 2010) de Lee Unkrich

UM SONHO POSSÍVEL

 

Baseado no livro homônimo de Michael Lewis que conta a história real de Michael Oher, famoso jogador da liga de futebol americano, Um Sonho Possível tenta resgatar valores familiares e costumes de um lar tipicamente protestante. Como conto moral, o filme é bem sucedido em sua proposta, que é a de criar uma história edificante, porém, em termos narrativos, o longa de John Lee Hancock é uma obra ordinária.

A opressão é o guia principal para sermos apresentados a Oher, vítima da falta de informação e de um lar destruído, logicamente oriundo do abandono do governo americano e que alimenta problemas infinitamente maiores que passam praticamente em branco pela lente de Hancock. Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock) e sua família surgem como uma oportunidade de viver uma nova realidade. Sem problemas para se adaptar, Oher vive o “sonho americano”, servindo como influência indireta para o resgate de valores perdidos pela família Tuohy. Na trama de Hancock, bem e mal não podem ser concomitantes. De um lado, está a vida perfeita, onde a grama verde reflete o bem estar vivido dentro das mansões do subúrbio americano. Na região periférica está a violência e o caos, sempre moldados por resoluções tão batidas que chegam a surpreender.

Hancock utiliza  mazelas da sociedade como assuntos para discussão apenas em momentos de passagem de atos; Conflitos não são gerados, nem mesmo em hipóteses mais óbvias, como o abismo social entre Oher e a família Tuohy ou surtos individualistas. Totalmente frouxa, a trama perde a força inicial por justamente criar um protagonista inerte a qualquer tipo de situação.
Em seu último ato, Hancock, faz uma bem sucedida metáfora à exposição e o tratamento dado aos pobres pelo governo norte-americano. Engraçado, pois o diretor cria algo que o filme necessitava por toda sua duração – Um motivo para sair da mesmice. Pena que era tarde demais para dar um novo rumo ao filme.

Um Sonho Possível  (The Blind Side, EUA, 2009) de John Lee Hancock

KICK-ASS - QUEBRANDO TUDO

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Filmes de heróis chegaram às telas aos borbotões na última década. Muitos com diretores com cacife suficiente para justificar a compra de ingresso como o caso de Zack Snyder (Watchmen) e Sam Raimi (a trilogia Homem-Aranha), mas poucos realmente se aventuraram em um terreno que desconstrua super-heróis além de um formato acessível a grandes públicos. É o que acontece em Kick-Ass – Quebrando Tudo. A adaptação da graphic novel de Mark Millar e John Romita Jr. para os cinemas consiste na inovação na desmistificação de heróis e em interessantes fragmentos de referências - e isto deve ser visto com bons olhos. É divertimento, é comédia adolescente, incorreto e extremamente violento, mas o que chama mais atenção da obra é como o filme de Matthew Vaughn é composto por caminhos tortuosos para o que chamamos de “blockbuster”.

Vaughn soube bem como montar esse mosaico sem que o lado autoral seja apagado. Em devidas proporções, Quentin Tarantino é o nome mais lembrado durante o filme por ser mestre na construção de referências. Não só por equalizar o humor com a violência sem que nenhuma dessas colunas para o roteiro caia em ostracismo, mas pela linguagem utilizada.  Justifica-se o som e sua ausência, a transformação do cinema em espetáculo em sequências bem amarradas e a utilização de macetes do cinema clássico como o narrador, elipses e a divisão de gêneros e aspectos modernos como a montagem frenética.

A habitual censura hollywoodiana dá o lugar para o diretor explicitar suas inspirações em Scarface e Pulp Fiction sem complexidades narrativas ou imersões existenciais. A cartilha é sim a do cinema pipoca, mas a busca por uma inovação do gênero, mesmo que sutil, dá ao filme a peculiaridade necessária para arrematar uma nova identidade. A possibilidade que o mundo dos quadrinhos e do cinema dá ao diretor é exposta em sequências geniais e deliciosas, como por exemplo, a que Hit Girl, uma menina de onze anos, sozinha, aniquila capangas ao som de “Bad Reputation” de Joan Jett e depois foge de um homem que segura uma bazuca. Esses absurdos representam bem o clima de Kick-Ass – Quebrando Tudo. É descompromissado, mas faz o trabalho com uma qualidade que muitos gostariam de ter quando o assunto é adaptação de uma história em quadrinhos:  ousadia.

Kick-Ass – Quebrando Tudo (Kick-Ass, EUA, 2010) de Matthew Vaughn

O PROFETA

 

Vencedor de diversos prêmios incluindo Cannes e BAFTA e com a indicação de melhor filme estrangeiro no Oscar, Jacques Audiard utiliza como base de O Profeta um princípio utilizado com certa demasia pelo cinema francês, que é construir um estado de espírito através de metáforas. Neste caso, em um filme de máfia. Todo tempo passado pelo jovem Malik El Djebena na prisão é composto por uma atmosfera tensa, com céu sempre cinza e luzes frias, no geral. Malik foi condenado a seis anos de prisão e a câmera de Jacques Audiard é testemunha do processo de ascensão de um homem dentro de um complexo esquema de máfias regida pelo tráfico de drogas e trocas de favores.

Num sistema carcerário comandado pela relação sempre em ebulição entre franceses e árabes, Malik tem total liberdade e sabedoria para gozar da miscigenação em seu sangue. Com ajuda da nem sempre linear narrativa, a posição do rapaz em relação à prisão e seus traumas são registradas pelas conseqüências. Ele faz as vontades de seu “chefe” e elabora planos para seu próprio sucesso enquanto Audiard dispara analogias a questões religiosas, políticas e existenciais que servem como pilares para a construção do citado estado de espírito. Junto disto, a personalidade do protagonista é construída entre a total inocência e o brutal uso do instinto animal.

Malik é o profeta por anunciar as “boas novas” para seus companheiros, mas também sabe ser o Judas em momentos apropriados, rendendo explosivas sequências de ação comandadas com primor por Audiard, provavelmente o ponto alto do filme. Mas todos esses ensaios religiosos, políticos e etc. não se expandem o suficiente para considerarmos O Profeta um filme sobre mafiosos, que segue a risca a cartilha para personagens deste porte. É sim, um filme sobre a tensão de viver em uma realidade imposta por costumes e valores ultrapassados.

O Profeta (Un Prophète, França, 2009) de Jacques Audiard

O GOLPISTA DO ANO

 

As intenções duvidosas de Glen Ficarra e John Requa em O Golpista do Ano se formam num humor desgastado por filmes destinados aos jovens. O filme de Ficarra e Requa não se enquadra neste gênero, pois os objetivos são diferentes, mas a fórmula é caricata o bastante para surtir o mesmo efeito que os teenagers. A narrativa torna-se abstrata por não existir um norte para a trama. Apesar de não existir uma clara separação, é possível posicioná-las em três núcleos.

Traumatizado desde a infância, Steven Russel (Jim Carrey) procura sempre ter uma boa vida, até descobrir que ser desonesto pode render muitos cifrões a mais para o seu bolso. As reações são desencadeadas de maneira gratuita e sem a clareza necessária para saber o que e quem os diretores pretendem gozar. A homossexualidade aqui é instrumento de deboche e não um apoio para o desenvolvimento do filme. Por outro lado está Ewan McGregor que faz Phillip Morris, seu personagem, habitar longe da escada humorística e se aproximar de bom coadjuvante que muitas vezes sustenta as cenas comandadas por Ficarra e Requa, que formam o terceiro núcleo por incessantemente buscarem pleonasmos dentro do roteiro.

McGregor e Carrey estão em dois filmes diferentes. Não pela personalidade distinta dos personagens que poderia justificar tal afirmação, mas sim pelas motivações de cada um em cena. Carrey é aquele que estamos acostumados a ver: careteiro, exagerado. Ele dá vida a um estereotipo. McGregor parece imergido em Phillip Morris. O resultado é a falta de química entre os personagens que se conhecem dentro de um presídio.

O humor de O Golpista do Ano é justificado pela opção sexual de seus protagonistas e troca os pés pelas mãos; tudo é motivo para cair em escatologia, para falar de pênis ou brincar com formatos de objetos. Como disse anteriormente, um humor para jovens. A carência da desconstrução de personagens para dar algum sentido às intenções dos diretores é grande. Ela  abordaria um humor mais refinado e daria uma nova faceta ao filme, que no fim das contas parece gratuito, caricato e sem inspiração alguma, mesmo cheio de boas opções a seguir.

O Golpista do Ano (I Love You Phillip Morris, França/EUA, 2009) de Glenn Ficarra e John Requa

DEZ ANOS. CEM FILMES.

Relutei para fazer minha lista dos melhores filmes da década passada (2000-2009) exibidos de alguma forma no Brasil, mas arrumei um modo divertido de lembrar e posicionar os filmes (mais conhecido como MUBI). Não vi muitos filmes, provavelmente esqueci-me de alguns e certamente não deixarei muitos satisfeitos. Enfim, espero suas opiniões e seus filmes prediletos que ficaram de fora. Here i go:

100. SWIMMING POOL (2003) de François Ozon

99. PACTO MALDITO* (2004) de Jacob Aaron Estes


98. OS SONHADORES (2003) de Bernardo Bertolucci


97. DIA DE TREINAMENTO (2001) de Antoine Fuqua


96. GLÓRIA AO CINEASTA! (2007) de Takeshi Kitano


95. ABRAÇOS PARTIDOS (2009) de Pedro Almodóvar


94. ADRENALINA II (2009) de Mark Neveldine e Brian Taylor


93. DIRIGINDO NO ESCURO (2002) de Woody Allen


92. O FANTÁSTICO SR. RAPOSO (2009) de Wes Anderson


91.  GERRY (2002) de Gus Van Sant


90. OS DONOS DA NOITE (2007) de James Grey


89. SHORTBUS (2007) de John Cameron Mitchell


88. SÍNDROME E UM SÉCULO (2006) de Apichatpong Weerasethakul


87. AS CINCO OBSTRUÇÕES (2005) de Lars Von Trier


86. ARRASTE-ME PARA O INFERNO (2009) de Sam Raimi


85. O HOSPEDEIRO (2007) de Bong Joon-Ho


84. A VIDA DOS OUTROS (2006) de Florian Henckel Von Donnersmarck


83. A PARTIDA (2008) de Yôjirô Takita


82. BATALHA REAL (2000) de Kinji Fukasaku


81. XXY (2007) de Lucía Puenzo


80. BEM VINDOS (2001) de Lukas Moodysson


79. A EXPERIÊNCIA (2001) de Oliver Hirschbiegel


78. AOS DOZE E TANTOS (2005) de Michael Cuesta


77. PARANOID PARK (2007) de Gus Van Sant


76. DESEJO E PERIGO (2007) de Ang Lee

75. INVASÕES BÁRBARAS (2003) de Denys Arcand


74. BOA NOITE E BOA SORTE (2005) de George Clooney


73. FILHOS DA ESPERANÇA (2006) de Alfonso Cuáron


72. NOTAS SOBRE UM ESCÂNDALO (2006) de Richard Eyre


71. NATUREZA QUASE HUMANA (2001) de Michel Gondry


70. A PASSAGEM (2004) de Marc Foster


69. REBOBINE, POR FAVOR (2008) de Michel Gondry


68. O ARCO (2005) de Kim Ki Duk


67. CLOSER (2004) de Mike Nichols


66. THIS IS ENGLAND (2006) de Shane Meadows


65. A QUEDA (2004) de Oliver Hirschbiegel


64. O HOMEM QUE COPIAVA (2003) de Jorge Furtado


63. O ÚLTIMATO BOURNE (2007) de Paul Greengrass


62. FONTE DA VIDA (2006) de Darren Aronofsky


61. O CORTE (2005) de Costa-Gravas


60. PROCURANDO NEMO (2003) de Andrew Stanton


59. O ESCAFANDRO E A BORBOLETA (2007) de Julian Schnabel


58. GRAN TORINO (2009) de Clint Eastwood


57. O GRANDE CHEFE (2006) de Lars Von Trier


56. JCVD (2008) de Mabrouk El Mechri


55. LAKE TAHOE (2008) de Fernando Eimbcke


54. SEPARAÇÕES (2002) de Domingos Oliveira


53. CACHÉ (2005) de Michael Haneke


52. CONTRA TODOS (2004) de Roberto Moreira


51. A ONDA (2008) de Dennis Gansel


50. ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ (2007) de Joel e Ethan Coen


49. NOVE RAINHAS (2000) de Fabián Belinsky


48. QUASE FAMOSOS (2000) de Cameron Crowe


47. KILL BILL: VOLUME 2 (2004) de Quentin Tarantino


46. SIDEWAYS (2005) de Alex Payne


45. FROST/NIXON (2008) de Ron Howard


44. HEDWIG - SEXO, ROCK E TRAIÇÃO (2001) de John Cameron Mitchell


43. SOBRE MENINOS E LOBOS (2003) de Clint Eastwood


42. DURVAL DISCOS (2002) de Anna Muylaerte


41. ADAPTAÇÃO (2002) de Spike Jonze


40. A CASA DE ALICE (2007) de Chico Teixeira


39. A BANDA (2007) de Eran Korilin


38. CONDUTA DE RISCO (2007) de Tony Gilroy


37. ESTÔMAGO (2007) de Marcos Jorge


36. TIROS EM COLUMBINE (2002) de Michael Moore


35. DONNIE DARKO (2002) de Richard Kelly


34. ALTA FIDELIDADE (2000) de Stephen Frears


33. WAKING LIFE (2001) de Richard Linklater


32. ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO (2007) de Sidney Lumet


31. CRONICAMENTE INVIÁVEL (2000) de Sérgio Bianchi


30. ROCKY BALBOA (2007) de Sylvester Stallone

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29. BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS (2008) de Christopher Nolan


28. ASSIM ME DIZ A BÍBLIA (2007) de Daniel G. Karslake


27. TEMPO (2006) de Kim Ki Duk


26. BASTARDOS INGLÓRIOS (2009) de Quentin Tarantino


25. REJEITADOS PELO DIABO (2005) de Rob Zombie


24. WALL-E (2008) de Andrew Stanton


23. FALE COM ELA (2002) de Pedro Almodóvar


22. ÁGUAS TURVAS (2009) de Erik Poppe


21. LOREN CASS (2006) de Chris Fuller


20. OLDBOY (2003) de Chan Wook Park

19. VANILLA SKY (2001) de Cameron Crowe


18. AMNÉSIA (2000) de Christopher Nolan


17. KURT COBAIN - RETRATO DE UMA AUSÊNCIA (2007) de AJ Schnak 


16. CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR (2000) de Roy Andersson


15. BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004) de Michel Gondry


14. ANTICRISTO (2009) de Lars Von Trier


13. SANGUE NEGRO (2007) de Paul Thomas Anderson


12. NA NATUREZA SELVAGEM (2007) de Sean Penn


11. CIDADE DOS SONHOS (2001) de David Lynch


10. OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS (2001) de Wes Anderson


09. E O BUDA DESABOU DE VERGONHA (2007) de Hana Makhmalbaf


08. CIDADE DE DEUS (2002) de Fernando Meirelles


07. 21 GRAMAS (2003) de Alejandro González Iñárritu


06. A VIAGEM DE CHIHIRO (2001) de Hayao Miazaki


05. KILL BILL: VOLUME 1 (2004) de Quentin Tarantino


04. DANÇANDO NO ESCURO (2000) de Lars Von Trier


03. AMORES BRUTOS (2000) de Alejandro Gonzáles Iñárritu


02. IRREVERSÍVEL (2002) de Gaspar Noé


01. DOGVILLE (2003) de Lars Von Trier

* Pacto Maldito também foi lançado no Brasil como Quase Um Segredo.
É isso. Espero que tenham gostado da lista. :)

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