O MELHORES E PIORES DE 2010

E mais um ano chega ao fim. Hora de fazer planos para o próximo e também a já tradicional lista dos melhores e piores filmes do ano. Ao contrário dos últimos anos, tive mais dificuldade para montar a lista dos piores. Acho que me esquivei dos filmes certos. Como parâmetro, usei filmes exibidos no Brasil (festivais, mostras, circuito ou lançados diretamente em DVD), com data de produção entre 2009 e 2010. Filmes vistos em festivais anteriormente e que entraram em cartaz neste ano ficam de fora. Sabemos também que gosto é uma coisa muito particular e que alguns filmes ficaram de fora e podem causar certa, digamos, revolta.

Sem mais delongas, vamos aos filmes:

OS PIORES FILMES DE 2010

10. MINHA MÃE É UMA PUTA (Mother is a Whore, Coréia do Sul, 2009) de Lee Sang Woo

Não é só no título de seu filme que Lee Sang Woo (que também escreve e protagoniza o longa) pretende instigar o público. Sua câmera registra a inversão de valores numa sociedade que cresceu com o peso da doutrina cristã. Mas para posicionar a religião em nosso tempo, o diretor se perde com o desenvolvimento narrativo, fazendo contraponto com as desconstruções de planos da cartilha do cinema clássico americano. O grande problema do filme é como o diretor coloca suas mensagens imbuídas em situações que buscam denegrir classes, gostos e escolhas pessoais. Se não fosse isso apenas, a ladeira desce um pouco mais por conta da bagunça narrativa. Exibido no Indie – Mostra de Cinema Mundial.[LER RESENHA]

 09. NINE (Idem, EUA/Itália, 2009) de Rob Marshall

A famigerada homenagem a 8 ½ de Federico Fellini dirigida por Rob Marshall falha feio por usar os personagens do diretor italiano de forma tão caricata afim de adaptá-los para um musical. As inserções musicais são feitas apenas para martelar na mente do espectador, de forma tendenciosa, o mais óbvio: a crise de um diretor para escrever seu novo filme enquanto é amedrontado por todas as mulheres de sua vida. Sem muitos desdobramentos e longe da brilhante forma que Fellini realizou 8 ½ , o filme de Marshall sobrevive graças as atuações de Daniel Day-Lewis e Penélope Cruz. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

08.ASSALTO AO CARRO BLINDADO (Armored, EUA, 2009) de Nimród Antal

Tenho a curiosidade em saber o que passou pela cabeça de Nimród Antal para dirigir um roteiro tão fraco e previsível como o de Assalto ao Carro Blindado.  E também o motivo para ele figurar na Blacklist (lista dos melhores roteiros que não saíram do papel) de 2008. O filme aborda a corrupção policial de forma tão desleixada e com um elenco onde todos tomam posição de coadjuvante, a coisa só piora. Por mais que o esforço de Antal seja perceptível, o longa não consegue formar um posicionamento concreto, mesmo que seja o de se assumir como puro entretenimento. Lançado diretamente em DVD. [LER RESENHA]

07.O GOLPISTA DO ANO (I Love You Phillip Morris, França/EUA, 2009) de Glenn Ficarra e John Requa

O humor de O Golpista do Ano é justificado pela opção sexual de seus protagonistas e troca os pés pelas mãos; tudo é motivo para cair em escatologia, para falar de pênis ou brincar com formatos de objetos. A carência da desconstrução de personagens para dar algum sentido às intenções dos diretores é grande. Ela  abordaria um humor mais refinado e daria uma nova faceta ao filme, que no fim das contas parece gratuito, caricato e sem inspiração alguma, mesmo cheio de boas opções a seguir. Exibido em circuito.[LER RESENHA]
06. O ESTUDANTE (El Estudiante, México, 2009) de Roberto Girault

O Estudante foge de uma total catástrofe graças ao dinamismo de suas cenas e por não oscilar por outros caminhos; Girault assume a identidade de seu filme nos primeiros minutos e a mantém intacta até o fim. Por outro lado, fica em aberto diversas possibilidades no roteiro e pesa a insegurança do elenco (exceto o inspirado Jorge Lavat) e da direção. A conclusão é que estamos diante de um capítulo de novela mexicana com duração estendida. Exibido em circuito.

05. A INVENÇÃO DA CARNE (La Invencion de la Carne, Argentina, 2009) de Santiago Loza

O grande problema de A Invenção da Carne é a redundância que Santiago Loza expõe com o tempo. Sua mensagem é passada logo nos primeiros minutos de filme e de resto, vemos um diretor desesperado para achar um sentido plausível para continuar sua narrativa, repetindo o mesmo raciocínio de formas diferentes. O médico com síndromes. A prostituta carente. Chega a ser ordinário. Até o epílogo, acompanhar os personagens, sempre em estado de ebulição emocional, é um sofrimento. Exibido no Festival do Rio 2010.
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04.400 CONTRA 1 – UMA HISTÓRIA DO CRIME ORGANIZADO (Idem, Brasil, 2010) de Caco Souza

A intenção de 400 Contra 1 é humanizar os personagens. Não elevá-los a status de herói ou de bandido.  E em cada época retratada, uma fórmula. E não pense que esta saída organiza o roteiro. A edição – exageradamente picotada e sem senso narrativo, não coopera. A mesma edição esmaece a veracidade dos fatos por não tratar estes mesmos personagens com a proximidade necessária para criar uma identificação. Eles não possuem conflitos e não é possível assimilar o tempo com os fatos. Em certa altura do filme fica impossível acompanhar esses relatos abstratos e ainda buscar alguma formação conflituosa para os milhares de personagens que pipocam na tela. Exibido em circuito.[LER RESENHA]


03. FÚRIA DE TITÃS (Clash of Titans, Inglaterra/EUA, 2010) de Louis Leterrier

Economizando em informações, o filme de Louis Leterrier apenas aponta um caminho para seu protagonista vestir a camisa de herói e partir para a batalha, levando tal pratica egoísta ao seu extremo. Os coadjuvantes ganham personalidades tão rasas que fica impossível criar empatia por qualquer um deles. Sem brechas para momentos contemplativos, a trama consiste em um bloco de cenas de ação que preza pelo apelo visual – sem sucesso, pois elas ficam entre o total retrocesso tecnológico (mesmo com a inclusão do 3D de última hora) e uma estética ordinária em filmes deste gênero. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

02. A SAGA CREPÚSCULO: ECLIPSE (The Twilight Saga: Eclipse, EUA, 2010) de David Slade
Em certo ponto de Eclipse cria-se a necessidade de uma interpretação que represente o filme de uma forma justificável; compreende-se que os personagens dirigidos por David Slade (30 Dias de Noite) estão com os hormônios à flor da pele e uma sequência de gags sobre o constrangimento gerado sobre esta situação guiam a narrativa ou que este mesmo constrangimento vem até o espectador por uma trama vazia que se sustenta em detalhes desnecessários. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

01. SEGURANÇA NACIONAL (Idem, Brasil, 2010) de Roberto Carminati 

Por que fazer um filme de ação se o diretor não sabe conduzir as cenas que o texto exige? Como domar a audiência se o mau gosto está em todas as cenas desse filme? Como levar a sério um protagonista em nível máximo de canastrice como Tiago Lacerda? Como aturar uma história que se agarra em aspectos saturados pelo cinema americano e com qualidade infinitamente inferior?

MENÇÕES DESONROSAS 
Alice no País das Maravilhas de Tim Burton, 8 Vezes de Pé de Xabi Molia,Insolação de Daniela Thomas e Felipe Hirsch, Lembranças de Allen Coulter e Brilho de Uma Paixão de Jane Campion

OS MELHORES FILMES DE 2010
 
10. TROPA DE ELITE 2 - O INIMIGO AGORA É OUTRO (Idem, Brasil, 2010) de José Padilha

O dinamismo do roteiro impressiona. Os diálogos de tão despretensiosos chegam a impactar. Entretanto, é impossível não entrar na imparcialidade que Tropa 2 sustenta. O cunho social que o filme traz deixa toda amarra do roteiro ficar pequena. A fidelidade com que Padilha a violência no Rio de Janeiro coloca em cheque o que é ficção ou o que reconstituição de algum fato, além de demolir um suposto discurso fascista tão levantado após o lançamento de Tropa de Elite. Seja lá em qual lado seu pensamento reside, ele será novamente impactado. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

 09. O ASSASSINO SENTIMENTAL DE MÁQUINAS (The Sentimental Engine Slayer, EUA/México, 2010) de Omar Rodriguez Lopez

A narrativa de O Assassino Sentimental de Máquinas é fragmentada ao extremo a ponto do último ato completo exija atenção redobrada. Mas não é o aspecto mais importante do debut de Omar Rodriguez-Lopez, líder do grupo The Mars Volta na direção. O Assassino Sentimental de Máquinas é uma experiência sensorial, onde figuras de linguagem, unem-se para criar as possibilidades do sonho e traumas, acopladas a já citada frenética edição transformam a grande crise existencial de Barlam, um jovem que não suporta o peso de uma cartilha comportamental adolescente numa viagem abstrata e extremamente envolvente. Exibido no Indie – Mostra de Cinema Mundial [LER RESENHA]

 08. KICK-ASS – QUEBRANDO TUDO (Kick-Ass, EUA, 2010) Matthew Vaughn

Filmes de heróis chegaram às telas aos borbotões na última década. Muitos com diretores com cacife suficiente para justificar a compra de ingresso como o caso de Zack Snyder (Watchmen) e Sam Raimi (a trilogia Homem-Aranha), mas poucos realmente se aventuraram em um terreno que desconstrua super-heróis além de um formato acessível a grandes públicos. É o que acontece em Kick-Ass – Quebrando Tudo. A adaptação da graphic novel de Mark Millar e John Romita Jr. para os cinemas consiste na inovação na desmistificação de heróis e em interessantes fragmentos de referências – e isto deve ser visto com bons olhos. É divertimento, é comédia adolescente, incorreto e extremamente violento, mas o que chama mais atenção da obra é como o filme de Matthew Vaughn é composto por caminhos tortuosos para o que chamamos de “blockbuster”. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

07. AS MELHORES COISAS DO MUNDO (Idem, Brasil, 2010) de Laís Bodanzky

Em certo ponto do longa fica impossível não associar a obra de Bodanzky aos filmes de John Hughes (principalmente Clube dos Cinco), que ao mesmo tempo que usava sua trama à um viés despretensioso, estudava uma geração. A relação dos jovens ao sexo, entorpecentes, imaturidade, novas formas de relacionamento, meios de comunicação e problemas familiares é vista por Laís de uma maneira que foge completamente de um modelo formulado por emissoras de TV, que geralmente utilizam os jovens como meros coadjuvantes ou simplesmente abusam do mau gosto para construir uma realidade distorcida. A idéia da diretora carrega resquícios de uma maneira mais “analógica” de se ver a vida, pois seus personagens prezam pelo contato ao vivo, que aos poucos e naturalmente brinda o espectador mais velho com uma sensação nostálgica. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

06. MICMACS – UM PLANO COMPLICADO (MicMacs à tire Larigot, França, 2010) Jean-Pierre Jeunet

Remetente às comédias do cinema mudo (em especial Charles Chaplin) e engajado, o filme de Jeunet é primoroso na linguagem dinâmica e no impactante visual. Brinca com o absurdo e com a (in)competência de nossa raça. Não dá muito tempo para reflexões, mas faz questão de entregar suas intenções nos momentos finais (e geniais). Para apreciar todos os detalhes é preciso ver MicMacs muitas vezes. Farei isto com o maior prazer. Exibido no Festival do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo.[LER RESENHA]

 
05. O GUERREIRO SILENCIOSO (Valhalla Rising, Dinamarca, 2009) de Nicolas Winding Refn

Anti-climático, o filme estuda o exercício da fé e a religiosidade como uma doença. O longa se fantasia de épico, mas tende muito mais às questões existenciais que para as batalhas – que praticamente não existem, mas quando cria embriões, se transformam em sequências brutais de violência. Nicolas Winding Refn (diretor do aclamado Bronson) cria quadros belíssimos para representar a angústia de seus personagens, perdidos, à procura de um sentido numa doutrina abstrata.  Lançado diretamente em DVD.[LER RESENHA]

 
04. FILM SOCIALISME (Film Socialism, França/Suíça, 2010) de Jean-Luc Godard

Fora o lado inovador de representar duas formas de arte praticamente marginalizadas dentro de uma narrativa, Godard esmaece diversos assuntos sem que eles pareçam deslocados dentro da proposta quase descompromissada com seu próprio engajamento. Film Socialisme é sim um filme difícil de assimilar e propositadamente feito para ser visto diversas vezes, junto com novas idéias e posturas. Exibido em circuito.

 
03. UM HOMEM SÉRIO (A Serious Man, EUA, 2009) de Joel e Ethan Coen

Os irmãos Coen usam a manipulação para representar o princípio básico da linguagem audiovisual. A história de Gopnik dá margem para uma narrativa dinâmica, que não deixa imunes valores e costumes da sociedade que são exaltados pela direção de Joel e Ethan. É assustadora a composição de quadros e movimentos de câmera para acentuar emoções. Toda beleza e sarcasmo de Um Homem Sério são necessários para uma contemplação livre, pois metáforas são freqüentes na trama. A maior e mais brilhante delas, na última cena do filme, é para lembrar que no cinema, Deus está sentado na cadeira de diretor. Exibido em circuito.[LER RESENHA]

 
02. O SEGREDO DOS SEUS OLHOS (El Secreto de sus Ojos, Argentina, 2009) de Juan José Campanella
O diretor Juan José Campanella bebe da decadência característica dos personagens dos filmes noir e do ritmo de filmes de ação americanos para traçar uma trama completa e claustrofóbica. Nela, a pena de morte é citada em alguns momentos, mas é atrelada a cada quadro do filme que também discute o abismo entre as palavras “existência” e “vivência” com bons diálogos e movimentos de câmera precisos. Exibido em circuito.
 
 
01. CÓPIA FIEL (Copie Conforme, França/Itália/Irã, 2010) de Abbas Kiarostami

Apesar de remeter a outra obra-prima do diretor, 10, Kiarostami entrega uma obra inventiva. Diálogos se tornam implícitos pelas própria potência. Relações conjugais podem ser o cerne da discussão (filme/platéia) sobre nossa falta de personalidade e os motivos de sermos tão banais, óbvios e cheio de sentimentalismos baratos. Mas, é um leque gigantesco de questões , construído através da metalinguagem. Cabe ao espectador criar sua própria temática. Exibido no Festival do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo.


MENÇÕES HONROSAS
O Escritor Fantasma de Roman Polanski, HaHaHa de Hong Sangsoo, Kaboom de Gregg Araki, The Killer Inside Me de Michael Winterbottom e Caterpillar de Kôji Wakamatsu

Aproveito que este provavelmente será o último post do ano para agradecer a todos que visitam frequentemente o site, o usam como parâmetro para suas idas ao cinema, que comentam e ajudam a divulgar o site pela rede. Desejo boas festas e um ano cheio de bons filmes para todos nós! Até 2011!

O CONCERTO


Radu Mihaileanu (Trem da Vida) resolveu, através de um mosaico de referências emocionais e políticas, fazer seu ode à música. Utilizando-a além de seus costumes escapistas. A arte também pode ser ferramenta para maniqueísmos políticos ou conciliação familiar. Dentro deste ideal, vemos uma bagunça de gêneros que se enfraquecem ao tomar forma de um conto moral.

O grande trunfo de Mihaileanu em O Concerto é manter intacto o senso rítmico (trocadilho inevitável...) de sua narrativa. Vamos do humor pastelão aos destroços do regime socialista do início da década de 80 na União Soviética e do deboche religioso ao melodrama como sua cartilha exige. A consequência natural, apesar da empatia criada e de alguns bons momentos, é que seus personagens se percam – incluindo suas identidades – no meio desta bagunça.

Em seu epílogo, O Concerto finalmente escolhe um caminho a seguir e entrega uma das sequências mais belas do ano: a do concerto em si. Enquanto Andrey e Anne-Marie (os protagonistas da história) se apresentam, aflitos, para uma platéia curiosa, Mihaileanu destrincha e monta o quebra-cabeça exigido pelo texto. E justamente nesta escolha – a de fazer parte de um gênero, o diretor revela outra vulnerabilidade de seu filme, intencionado a criar situações extremas, que beiram o grotesco, que fará rir pelo desconforto e chorar graças ao apelo.
★★
O Concerto  (Le Concert, França/Itália/Romênia/Russa/Bélgica, 2009) de Radu Mihaileanu

MEU MUNDO EM PERIGO


Situações inerentes ao ser humano; a duplicidade existente em qualquer tipo de sentimento. Meu Mundo em Perigo, ovacionado no Festival de Cinema de Brasília de 2007, chega aos cinemas com atraso de três anos. Mas o tempo pouco importa quando José Eduardo Belmonte nos sufoca não só com planos demasiadamente fechados. O diretor enaltece o extremo para o alcance da liberdade, seja ela almejada em silêncio ou explicitamente, ambas representadas através de personagens.

Sem refinamentos técnicos e guiado por câmeras instáveis, o longa que a priori se desenvolve moldes de thriller psicológico logo se entrega ao drama existencial incrustado no caos das ruas paulistanas.  Como consequência, seus personagens se refugiam em bares, hotéis baratos e vagam pelas ruas à procura de uma solução, ou apenas uma nova chance, tema também retratado no posterior e já consagrado Se Nada Mais Der Certo.

A estética proposta por Belmonte casa bem com a obscuridade e pessimismo do filme, que no epílogo abandona a dinâmica calçada na identificação e agarra a redundância para reforçar a idéia de contemporaneidade do texto e se arrasta, até encontrar seu cerne, a unidade que habita entre a sanidade e a loucura, para a brilhante conclusão.

★★★
Meu Mundo em Perigo (Idem, Brasil, 2007) de José Eduardo Belmonte

AS MELHORES CENAS DO CINEMA EM 2010

Técnica,  impacto visual ou simplesmente pela exclusiva representação da trama. São os paramêtros para  analisarmos e  por quê não, arquivarmos  inconscientemente estas cenas. Listei algumas sequências/cenas de filmes exibidos por aqui em 2010 e que podem entrar neste extenso arquivo (ou não), dependendo do seu gosto, mas com toda certeza carregam potência narrativa para seus filmes.

A perseguição no estádio de futebol em O Segredo dos Seus Olhos

Hit Girl decapitando capangas em Kick-Ass – Quebrando Tudo

O Bar Mitzvah em Um Homem Sério

Promessas para uma nova vida em A Vida Durante a Guerra

Os papéis de O Escritor Fantasma

A tensão no aterro sanitário em Toy Story 3

A estagiária construindo um sonho em A Origem

Shame on you! de The Killer Inside Me

Um passeio pela cidade de Cópia Fiel

A sequência de acidentes de Abutres

Os filmes estão selecionados em ordem aleatória. Gostaram da seleção? Faltou alguma? Deixe seu comentário para aumentarmos esta lista!

MACHETE


Nascido de um trailer falso produzido para Grindhouse (filme em conjunto dirigido por Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, que pelo fracasso comercial nos EUA culminou no lançamento separado de À Prova de Morte e Planeta Terror no resto do Mundo), Machete exala diversão por ser fiel à proposta do projeto em que foi criado. O lado trash - que nunca pareceu tão pop - se une ao subtexto engajado para justificar a sanguinaria desenfreada.

Robert Rodriguez faz questão de refinar o seu humor à frente da tosqueira que o filme pede. Brinca com o improvável, até quando a violência parece saturada. Quando o filme parece afundar de vez, lá vai Rodriguez e tira o coelho da cartola com uma sequência de arrancar o fôlego. Pena que elas são rápidas demais. Portanto, o maior trunfo do filme é escrachar a visão política sobre a relação entre Estados Unidos e imigrantes mexicanos.

Machete tropeça no desenvolvimento narrativo. Tudo é redondo demais para um longa proposto a louvar o absurdo, até o epílogo, quando Rodriguez parece jogar seus personagens (clichezentos e maravilhosos) para escanteio com o propósito de achar um sentido para a história além subtexto e tudo parece mal resolvido. A excitação que antes fora pelo grotesco vira um conto anti-maniqueista - por colocar todos elenco na posição de bad ass - e político, com problemas de ritmo conclusão abrupta. Diverte, mas para a dimensão que Machete tomara em seu início, não acaba tão bem assim.


Machete (Idem, EUA, 2010) de Robert Rodriguez e Ethan Maniquis

O PEQUENO NICOLAU


Junte o espírito de coletividade de Os Batutinhas à sapiência de O Menino Maluquinho e algum filme de Charlotte Sachs Bostrup e teremos algo bem próximo da fórmula de O Pequeno Nicolau. O filme que ao mesmo tempo chega às prateleiras das locadoras e ainda goza de uma ótima bilheteria nos cinemas do país tem motivos de sobra para ser aclamado pela crítica e pelo público: em sua narrativa envolve diversas referências do cinema dito cult ao desenvolvimento leve e divertido que o tema pede.

Para os mais velhos, o longa de Laurent Tirard carrega um tom nostálgico. Não espere os personagens possuindo telefones celulares, Ipods e afins. Os garotos (cada um com o estereótipo clássico de nossos amigos de colégio – que também remetem aos personagens de Menino Maluquinho) formam um clube para ajudar o pequeno Nicolas, aterrorizado pela suposta chegada de um irmãozinho que consequentemente expulsará Nicolas de sua casa para viver na floresta. Para os mais novos, é a chance de conhecer, de forma fiel, um mundo deixado para trás, onde as relações eram formadas pelo convívio.

E nas enrascadas que os amigos passam para agradar os pais de Nicolas que o filme representa cada fragmento do imaginário do mundo infantil. A inocência, o desconforto de estarem perto das meninas, os problemas no colégio e claro, a amizade, que é saboreada a cada segundo. Adicione a essa fórmula a direção segura de Tirard que não omite suas intenções ilustrativas dessa fase e a trilha sonora cool o bastante para colocar O Pequeno Nicolau como uma das pequenas pérolas deste ano.

O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas, França/Bélgica, 2009) de Laurent Tirard

TETRO


Dentro de diversas possibilidades para contar a densa história de Angelo Tetro, Francis Ford Coppola utiliza dois métodos de linguagem cinematográfica e os separa sem muitos rodeios. Tetro é uma silenciosa busca por redenção do personagem vivido por Vincent Gallo. De tão quieto, é preciso que seu irmão Benjamin desbrave a mente do ex-escritor e lhe dê um novo sopro de vida.

Nos momentos em que apresenta seus personagens e conflitos, Coppola usa a câmera como uma acompanhante, uma mera espectadora, que por diversas vezes transforma-se nos personagens através do uso da câmera subjetiva ou de overshoulder. Angelo vive sobre o peso do passado. São diversos traumas que o diretor reconstitui invertendo uma tradição para situar o presente e o passado dentro de roteiros de cinema.

Quando uma simples história de família disfuncional vira uma complexa comparação entre vida e arte entrelaçada ao conflito direto de Angelo e seu passado, Coppola põe os dois pés no cinema clássico. Não há uma só sequência que o diretor não use o básico plano e contra plano. Há espaço para o diretor usufruir bem da luz e de sombras enquanto a vida do protagonista entra em colapso.

A história de Tetro não esbanja inovações, pelo contrário, ela é de fácil assimilação e desconstrução, mas justifica a magia do cinema, que é a possibilidade de contar uma mesma história de diversas maneiras, de inúmeros pontos de vista e sugerindo novas reflexões e idéias.

Tetro (Idem, EUA/Argentina/Espanha/Itália, 2009) de Francis Ford Coppola

ENTERRADO VIVO


Todo suspense insinuado nos créditos iniciais de Enterrado Vivo termina na trilha sonora de Victor Reyes inspirada em Alfred Hitchcock. O longa do espanhol Rodrigo Cortés é um original protesto contra a postura comodista do governo americano no período pós-guerra, que se importa em enaltecer suas glórias e manter a boa reputação ao invés de reconhecer seus erros e consertá-los.

O filme mostra os sufocantes momentos em que Paul Conroy, prestador de serviços da companhia CRT foi sequestrado por terroristas iraquianos e enterrado vivo. Dentro do caixão, estão alguns acessórios. Entre eles, um celular com pouco sinal e bateria acabando. Em busca de socorro, Conroy esbarra na burocracia americana para sair vivo desta armadilha.

O sufoco dá lugar a revolta, já que Conroy (Ryan Reynolds, sempre ótimo) acha um vilão superior aos iraquianos rapidamente. É justamente neste ponto que a trama ganha o espectador. Cobras, a falta de ar ou a areia que em algum momento dominaria o caixão ficam para segundo plano. Cortés tem um alvo e o acerta em cheio. Ou quase isso.

Infelizmente Cortés tropeça diversas vezes em sentimentalismos baratos, talvez com a intenção de amenizar o seu discurso. Já tecnicamente, Enterrado Vivo é claustrofóbico como a cartilha pede, com planos fechados e etc. Entretanto, deixa a sensação de que o diretor não explora por inteiro às possibilidades de se filmar em uma locação apenas.  Cortés prefere a licença poética para utilizar diversos movimentos de câmera que não caberiam filmar dentro de um caixão.

Enterrado Vivo (Buried, Espanha/Estados Unidos, 2010) de Rodrigo Cortés

A REDE SOCIAL


Contar a história do Facebook talvez não seja a mais interessante e ousada aposta de David Fincher, entretanto vemos uma obra arrivista em relação ao futuro, sempre embutido em um imaginário que entroniza a tecnologia, vantajosa e promissora. O filme é comportado até demais dentro dessa temática, o que surpreende positivamente.

A teia psicológica que Fincher costura em A Rede Social leva seus efeitos até onde é possível. Coloca em medidas diversos gêneros dentro da trama, sem distorcer nada que o roteiro (baseado no livro “Bilionários por Acidente” de Ben Mezrich) lhe oferece. Por sinal, o diretor parece muito à vontade com o texto e menos preocupado com aspectos estéticos. A narrativa, sempre em flashbacks, permite que seus personagens sejam estereotipados, talvez para melhor assimilação das idas e vindas do tempo, que divide a história em si e os julgamentos por qual Mark Zuckerberg, o fundador do site passou por ser “espertinho”, digamos assim.

Fincher dispensa qualquer bandeira ou panfletagem em relação a comportamentos e ideais. Mesmo com todas suas limitações (convenhamos que é uma história que só tem seu charme por se tratar de um site que todo mundo utiliza), o cerne maior de A Rede Social é explorar como a ambição cresce conforme o ego e o status e, a análise batida, porém sempre necessária de que certas coisas o dinheiro não pode comprar.

A Rede Social (The Social Network, EUA, 2010) de David Fincher

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