2008

Fim de ano, época das listas dos melhores do ano e aqui não será diferente. Faço a lista dos dez melhores filmes que passaram pelos cinemas seja em circuito aberto ou festivais de cinema em 2008 na minha humilde opinião.


01 - Na Natureza Selvagem de Sean Penn
02 - Loren Cass de Chris Fuller
03 - Batman - O Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan
04 - Wall-E de Andrew Stanton
05 - Sangue Negro de Paul Thomas Anderson
06 - Assim Me Diz a Bíblia de Daniel Karslake
07 - Antes Que o diabo Saiba que Você Esta Morto de Sidney Lumet
08 - This Is England de Shane Meadows
09 - Estômago de Marcos Jorge
10 - Rebobine, Por Favor de Michel Gondry

HANNAH SOBE AS ESCADAS


O movimento mumblecore realiza filmes de baixo orçamento, tem base no improviso e não tem um roteiro certo a seguir. O diretor Joe Swanberg é membro do tal mumblecore, algo que não chega a ser inovador como o Dogma 95, por exemplo, mas faz sua parte em Hannah Sobe as Escadas, filme que ainda não entrou em circuito nacional.
O registro do cotidiano de forma natural, através do improviso funciona, pois é preso pelos interessantes diálogos no início da trama. Hannah é uma garota recém-formada e começa a trabalhar em uma produtora, mais especificamente em um seriado. Mas enquanto ela desenvolve seu trabalho com os roteiristas, ela questiona os valores contemporâneos e seus sentimentos, criando dúvidas em relação ao seu futuro, criando daí os conflitos principais do filme, pois Hannah é o ponto de partida da vida de todos os personagens.

O baixo orçamento é motivo de orgulho, mas não é usado a favor, com pouca ousadia, as mudanças de planos são quase nulas e até imagem desfocada podemos observar.

Hannah enquanto muda de namorado, continua a se questionar e o filme não muda, continua preso pelos diálogos, que vão ficando mais longos conforme o andar do filme. Em seu último ato, eles já estão massantes. Os personagens falam exaustivamente e nem sempre algo que faça sentido com a trama. 

O filme é interessante por tocar em assuntos atuais e de forma inteligente, sobre a vida nova de quem acabou de virar adulto e suas inseguranças e preocupações, de registrar a naturalidade, mas não se desenvolve e não tem a coragem suficiente para ousar em movimentos de câmera e em planos escolhidos.

★½
Hannah Sobe as Escadas (Hannah Takes the Stairs, EUA, 2007) de Joe Swanberg

O SILÊNCIO DE LORNA


Vencedores do Festival de Cannes na categoria de melhor roteiro deste ano, os irmãos Dardenne estão de volta, largando os profundos e nada tragáveis dramas para uma intensa trama no ilícito suspense O Silêncio de Lorna

Os irmãos Dardenne têm uma forma peculiar de construir seus filmes, de forma mais crua, sem exageros cinematográficos, a ausência da trilha sonora e a aposta da arte mais corriqueira, casual. Aqui, elipses são inseridas, ora em momentos cruciais, outros em momentos que não fariam muita diferença para a trama. Mas o que pesa mesmo é o seu subtexto, a questão da xenofobia, dos interesses pessoais, do aborto e a maternidade e a questão de se realmente nós, humanos, temos limites. 
Lorna é albanesa e para conseguir sua cidadania belga, casa por interesse com um viciado em heroína, pois sabe que sua vida será curta. Lorna tem envolvimento com a máfia, que negocia visto de cidadania, que logo arrumaria um novo marido para ela, e assim, mais um com visto belga. Tudo é programado e calculado e o que interessa é o dinheiro. Mas Lorna sente o peso de suas atitudes e é cercada por dúvidas e teme por sua vida também.

Arta Dobrishi em grande atuação, consegue transformar Lorna em monstro a uma inocente e frágil criança num piscar de olhos. Tais dúvidas que envolvem sentimentos por seu marido viciado, seu real namorado e sua submissão a ordens cruéis de quem a usa como uma prostituta. 

A partir daí um labirinto em que Lorna entra é grande e tudo esta fora de controle, mas também pode estar em suas mãos. Os Dardenne conseguem controlar a trama com louvor, não deixando a cair em uma trama frenética e sim de uma forma bastante cadenciada, fácil de assistir, mas que deixa sua mente trabalhar tranquilamente para refletir sobre o que vem por trás dos diálogos e cenas, de certa forma trazendo mais complexidade ao filme. Um filme para ser refletido durante e depois de sua exibição.

O Silêncio de Lorna (Le Silence de Lorna, França, 2008) de Jean-Pierre e Luc Dardenne

FELIZ NATAL

Para muitos a celebração do Natal remete a reunião familiar, a celebração de mais um ano, entre comes e bebes e o amor familiar. Para outros, apenas uma obrigação social. Para Caio, vivido por Leonardo Medeiros, personagem principal de Feliz Natal, filme de estréia de Selton Mello na direção, é um momento delicado, de acerto de contas. 
 
Caio sai do interior, onde mantém um ferro velho e vai para a capital com intuito de passar a véspera de Natal com os familiares e o que encontra é uma família em cacos, presa apenas por fios que podemos chamar de hipocrisia. O filme é um retrato do momento de mudança de um homem, com o peso de seu passado e acusações de quem deveria estar ao seu lado, que não faz esforços para manter Caio por perto. Caio é acusado por um motivo que não é relevante ser citado, um fato que é comum atualmente, mas que serve de gancho para vermos o que o remorso e o medo podem fazer com a vida de um homem. 

A câmera viva, invade os locais, como um personagem, influência direta do diretor americano John Cassavetes, junto com momentos mais intimistas, reflexivos, economizando diálogos, em busca de uma resposta, algo que remete aos trabalhos do alemão Wim Wenders, se afastando completamente do que estamos acostumados quando o assunto é "Cinema Nacional". Mas não só de influências que Feliz Natal é feito, Selton Mello ousa com incômodos big closes em momentos cruciais e planos-sequencias muitíssimo bem elaborados em momentos não menos importantes, colocando Darlene Glória em seu devido lugar, interpretando a mãe da família, dopada e subestimada e Lúcio Mauro, como um amargurado pai, em uma das mais brilhantes cenas do filme. Por outro lado, o núcleo onde estão os amigos de Caio, vem com uma proposta completamente oposta, com uma metralhadora de palavras e um mundo frenético e com muitas luzes, mas não menos deprimente e oprimidos pelo peso que levam nas costas, mas causa uma irregularidade de ritmo na trama. Na família, as relações estão cobertas pela amargura, pelo interesse e a bem clara hipocrisia. Casais, filhos, irmãos, amigos. O fantasma do passado assombra a todos, exaltado por diálogos previsíveis, mas funcionais, denunciando a falsidade que está a uma linha da realidade daquela família. 

A fotografia escura reforça tal idéia, captado em scope, um mundo frio e escuro e sem saída e por vezes até meio exagerado na carga dramática. Selton Mello começa sua promissora carreira de diretor com o pé direito, já se diferenciando de outros diretores e filmes nacionais. 
Feliz Natal (Idem, Brasil, 2008) de Selton Mello

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