Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Luc Besson, 2017)




Formalismo Comic-Con.
 
Antes de tudo é preciso explicar o título: Valerian e a Cidade dos Mil Planetas também é uma convenção de entretenimento multigênero. É possível dizer também que Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é uma leitura corrida dos últimos anos de ficção científica no “cinemão”, ainda que o projeto de Luc Besson seja muito pessoal e tenha sido financiado de maneira independente para levar a HQ de Pierre Christin às telas. E está longe de ser um passo adiante de Lucy, seu filme anterior, de abordagem completamente distinta.

Ainda que tudo pareça extremamente misturado e corrido – há um texto de David Elrich o comparando a um delírio lisérgico - nos seus 137 minutos, há delimitações simplórias no filme: são espaços desenhados para cada menção e diálogo com os “braços” do mundo fantástico. A dos games, por exemplo, lá está o uso do controle de visão e de joysticks para participar de um mundo paralelo, além de referências ao ecrã tátil e da própria linguagem usada por Besson, que também cerca o mundo das HQs, filmes e desenhos. Certamente um filme debruçado ao visual, cheio de referências que vão à Los Angeles de Blade Runner passando por O Último Guerreiro das Estrelas, Dark Star, Planeta do Tesouro e John Carter.  Neste sentido, é um filme bastante inocente, até infantil, brincando com formas e suas funções, como Besson outrora fez em O Profissional e principalmente em O Quinto Elemento, o filme mais próximo de Valerian. 

Das HQ’s, a referência da composição de quadros, cores e tons e dos desenhos à lisergia que o mundo fantástico permite. O que surpreende é o tom fabuloso da narrativa, ainda que falte muito nas definições dos personagens secundários – sempre regidos por uma decisão: “ataque!”, “corra!”, “vamos!”, etc. Valerian e a Cidade dos Mil Planetas não tem um vilão com o arquétipo que conhecemos nos épicos destes gêneros. Tem seu holofote quando a trama exige. Se não é espelhada, a trama guarda o outro lado para o questionável jogo de aproximação e distanciamento amoroso entre Valerian (Dane De Haan) e Laureline (Cara Delevingne) enquanto a crescente obrigação de salvar mundos intensifica – como outrora Leeloo e Korben Dallas fizeram em O Quinto Elemento. 

E deste córrego escoam coadjuvantes, entre monstros, aliens, majores, robôs e mutantes, como Bubble, interpretada por Rihanna a que ganha mais atenção, mas ainda assim pouco aproveitada para o norte narrativo. Ela é uma presença atrativa e que expõe as fragilidades de um filme sem camadas; pois Valerian e a Cidade dos Mil Planetas se resume em seu prólogo – uma brincadeira entre linguagem, mensagem e visual -, reservando o desbunde completo para o restante de filme, resumindo-o à procura de uma identidade própria no meio de tantas referências literárias e audiovisuais.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é um filme morno por oscilar neste delírio. Entre o pastiche e a estranha ousadia de ser ferrenho na transformação do humano no espaço utópico e não nas criaturas e planetas criados, há o desconforto pulsante. Em boa parte das sequências há uma moral e não por acaso será a mesma usada por todo o filme: a velha mensagem de esperança, amizade e paz, caricata e que esbarra no ridículo da maneira que Besson a compõe. 

E se estamos diante de um filme de superfícies e não de personagens, o abismo é próximo e o desarranjo com o tempo que se conjuga é nítido. Valerian e a Cidade dos Mil Planetas na medida em que insere informações e adereços constrói ausências no formalismo que a priori seria rico e complexo. 

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