GLÓRIA AO CINEASTA!

Da “cabeça quebrada” de Takeshi Kitano surge Glória ao Cineasta, um surreal ode e também uma grande sátira ao cinema, que não são de fácil absorção, mas são geniais neste filme que passa do físico apenas, do óbvio e vai também para as sensações e reflexões e está em cartaz em poucos cinemas pelo país.

Tudo começa quando o diretor Takeshi Kitano – sem mudar de expressão facial por quase todo o filme - cansa de fazer filmes de gangster e procura um novo projeto, algo que faça sucesso de público e crítica, já que apenas um, de seus doze filmes fez sucesso, sempre acompanhado de seu “dublê”, importantíssimo para as analogias da trama. A partir daí, Kitano tenta vários gêneros e épocas diferentes para achar o seu hit, como filmes de terror (com remake em Hollywood), romances, filmes de ninja e de época, com um deboche claro, mas questionando a versatilidade de um diretor... Ou seria uma limitação? Takeshi debocha de si.
Quando o diretor acha uma nova saída para sua glória, o que vemos é uma sucessão surrealista de fatos referentes ao cinema. Tanto do que acontece na tela ou fora dela, como a obediência dos espectadores ao diretor, o tempo perdido pelos espectadores quando assistem algo ruim e o do diretor por ter feito, o dinheiro, a encenação, enfim, se trata mesmo de uma obra-prima.

Kitano comanda essa loucura toda com maestria, fotografia linda, direção de arte e figurino absurdos, mas nem isso o diretor poupa, quando temos a seqüência do trem, onde ele mostra que para tudo há um jeitinho. Um jeito de enganar. Outros aspectos como o ego e a culpa do diretor também são tratadas, todas elas de forma bastante bem humorada, muitas situações chegam ao limite do absurdo, sobrando até mesmo para o jogador Zidane vestindo o uniforme da seleção francesa (ou seria para a França, onde o cinema nasceu?) na mesma cena que o filme Matrix é lembrado e levado por um humor que acompanha efeitos sonoros e personagens caricatos.

Para quem está familiarizado com a obra do diretor, irá saborear Glória ao Cineasta de forma diferente e ainda melhor. Kitano faz questão de mostrar o diretor com fragilidade, um ser inseguro e que aceita opiniões. Mas como toda história tem um vilão, neste também não é diferente, representado aqui como um proto-vilão por um professor hilário, que também representa os erros de gravação e o merchandising em filmes. Esta tudo ali basta querer e ser. Glória ao Cineasta é debochado e debocha de si, já sabendo que não será exibido no grande circuito e não será sucesso de público, mas merecia. E muito.

★★★★
Glória ao Cineasta (Kantoku-Banzai!, Japão 2007) de Takeshi Kitano

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Melhores Filmes de 2023

Mangosteen de Tulapop Saenjaroen Mais um longo post com os melhores filmes do ano. São os melhores filmes lançados entre 2021-23 com mais ...