A PARTE DOS ANJOS



E lá está novamente o mundo agridoce e nada singelo de Ken Loach. Das relações humanas à salvação ou sobrevivência de um ambiente sujo, árduo e violento, A Parte dos Anjos usa o mesmo método que o realizador tem como estrutura para narrativas – com exceções, é claro – nos últimos anos.

Aqui, tudo corre em paralelo à ideia de redenção. Da apresentação da rotina de Robbie, típico pilar de Ken Loach – homem sem caráter, mas com um coração “enorme” – à transição e chance de recomeço, sempre pela ótica bem humorada de pastiche e no exagero de recursos cênicos - personagens a mais, verborrágicos, diálogos que pontuam margens e que ao longo do filme são esquecidas. Com a lógica do apelo ao seu protagonista, Loach tenta suportar seu filme no único acerto – o jogo com a questão da vilania em um mundo corrompido, mesmo sem angústias ou contratempos.

Acentuar paradigmas da imaginação popular dentro deste discurso moldado pela mesmice dá ao filme tom folclórico, sem acepções técnicas e, para os familiarizados com o trabalho de Ken Loach, sem frescor. Pela fácil digestão, A Parte dos Anjos pode ganhar alguns espectadores, o que justifica o prêmio dado pelo júri no último Festival de Cannes, mesmo sem o naturalismo exigido pelo gênero.

O cinema uniforme de Ken Loach, de personagens “selos” e comportamentos formulados não busca mais abordar ou sugerir discussões há algum tempo. O tema, supracitado, será atual até os limites do tempo. Porém, os mecanismos usados sugerem a apropriação do discurso.

A Parte dos Anjos (The Angels' Share, Reino Unido, França, Itália, Bélgica, 2012) de Ken Loach

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