CORTINAS FECHADAS

Da impossibilidade de trabalhar, Jafar Panahi faz em caráter marginal um filme sobre a angústia de subsistir e o processo criativo de um cineasta em cárcere. De cunho teatral, também usado em seu filme anterior Isto Não É Um Filme, Panahi usa dois personagens (des)motivados pelo terror ao redor.  Fugitivos por motivos abstratos – fora a presença de um cachorro, animal de criação proibida pelo Islamismo -, ambos estão em constante estado de alerta e preservação.


A ilusão que cortinas fechadas protegem é a catapulta que Panahi utiliza para assim, sinalizar a angústia do processo de escrita e o monstro que o mundo externo tornou-se para o diretor. E levado ao seu extremo, Panahi toma o filme para si, escancara um discurso escondido nos diálogos. Derruba as cortinas, quebras as janelas e exibe enfim, sua posição. Interpretado pelo co-diretor e amigo Kambuzia Partov que por vez passa pela mutação óbvia da co-direção e do real autor, o responsável por escrever um roteiro e que passa por crises. De fora para dentro. Pode tanto destruir seu passado como o futuro – a opressão que transforma em autoboicote.


Portanto, Cortinas Fechadas serve mais como um novo desabafo. Um novo tour de force corajoso para exibir o terror sem que o próprio seja despertado. Pois para Panahi o estopim é móvel e intenso como as ondas do mar. Estas que impedem que ele se esqueça de sua prisão.

Cortinas Fechadas (Pardé, Irã, 2013) de Jafar Panahi e Kambuzia Partov

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