COBERTURA: FESTIVAL DO RIO (PARTE 4)

Tirem o Sorriso do Rosto (Hide Your Smiling Faces, EUA, 2013) de Daniel Patrick Carbone

Apesar de todo diálogo com o mundo ao redor para justificar a angústia juvenil, Daniel Patrick Carbone conduz o seu filme com choques intensos para apontar outro tipo de martírio. A forma aguda como o diretor imprime a brevidade da vida e seu descrédito calçado no tédio transforma a lenta narrativa em questionamento sobre o “ninho”. De onde surgimos, nossos laços, a importância da referência, etc.
★★★★
 
 Uma Família Gay (Una Familia Gay, Argentina, 2013) de Maximiliano Pelosi

 Exercício híbrido de documentário e ficção com único intento – debater as reais motivações e diferenças do casamento gay. À vontade para passar pela política e religião, o filme mescla depoimentos reais de casais com um protótipo de sitcom sobre um casal que passa por conflitos envolvendo a união civil. Apesar de toda clareza no discurso, o resultado é irregular. 
★★
A Vida Depois (La Vida Después, México, 2013) David Pablos

A distância entre estar e ser. Irmãos que mais parecem inimigos. A mãe, mais presente quando ausente. David Pablos incomoda nas ações repetidas, nos gestos vazios, na falsa esperança. O mundo morreu e basta alguém para avisá-los. E assim coroa seu filme.
Sarah Prefere Correr (Sarah Préfère La Course, Canadá, 2013) de Chloé Robichaud
Estudo minucioso da ambição e utopia de início de vida adulta, repleto de falsos caminhos e momentos de dormência emocional. É a fase de descobertas, decepções e principalmente a reveleção do abismo entre vocação e trabalho. Como o título entrega, Sarah luta para se satisfazer, entre erros e acertos. Um singelo apelo a favor de outros tipos de satisfação além do financeiro.
Chevrolet Azul (Blue Caprice, EUA, 2013) de Alexandre Moors

Alexandre Moors, artista plástico em primeira incursão no cinema faz de Chevrolet Azul um filme que não exige, mas que merece o caráter observacional. A natureza do mal através do abandono familiar e da injustiça - idolatrada por seus protagonistas, que respondem à altura e reforçam o pensamento que muitos filmes do Festival do Rio abordaram - o valor da base para uma sociedade segura. Aqui, há a noção de causa e efeito. Por outro lado, há a lobotomia. A violência como saída e eixo para o protesto, visto que é dela a total atenção de veículos midiáticos. Sundance 2013.


O Rio Nos Pertence (Idem, Brasil, 2013) de Ricardo Pretti 
Ricardo Pretti filma em sua terra natal e exibe uma história de retorno traumático, onde a cidade do Rio de Janeiro nos "engole" e o suicídio é uma forma de expressão. Um filme denso e corajoso, sem amarras para o flerte com o óbvio e até mesmo com o incômodo da desproporção entre poesia e narrativa. Filme do projeto Sonia Silk em parceria com Bruno Safadi. Selção do Festival de Rotterdam.


Acalme Esse Coração Inquieto (Stop the Pouding Heart, Itália/Bélgica/EUA, 2013) de Roberto Minervini
 Da observação rotineira de um condado no sul dos EUA até a dormência completa de conflitos envolvendo os sonhos juvenis e o cristianismo, Roberto Minervini opta por contrariar qualquer convenção para desenvolver afinidades entre espectador e filme e manipular personagens; assim, evoca pilares como Frederick Wiseman e o contemporâneo Wang Bing pela apresentação simples e a partir dela, utilizar o passar dos dias como campo para estudo.


Os Donos (Los Dueños, Argentina, 2013) de Agustín Toscano e Ezequiel Radusky 
O reduto de férias de uma família logo vira campo paras lamento no abismo social que separa patrões e empregados. E Os Donos conta em crescendo a tensão entre estes polos quando a ambição e a necessidade finalmente se emparelham. É o suficiente para reforçar as diferenças e intenções de cada nicho. Seleção da Semana da Crítica do Festival de Cannes.
Por que Você Não vai Brincar no Inferno? (Jigoku de Naze Warui, Japão, 2013) de Sion Sono
Não há palavras para definir o que Por que Você Não Vai Brincar no Inferno? se propõe. Pois é necessária certa familiaridade com a filmografia de Sion Sono (Culpada por Romance, Suicide Club) para traçar paralelos com a forma desencontrada de sua obra com o centro - neste caso, o cinema. E qualquer parecer sobre "fios soltos" serve para a glória do diretor. Como o próprio diz, o realismo morreu. Sobrou o artifício. E é dele que surge a fonte para tantas saídas criativas, para o humor anárquico e, claro a homenagem-paródia às convenções do cinema japonês pela ótica do ocidente - máfia, tradições, honra, artes marciais e humor.

Gata Velha Ainda Mia (Idem, Brasil, 2013) de Rafael Primot

Gata Velha Ainda Mia segue proposta ousada: separa-se em duas partes por uma brusca mudança. A primeira, um embate de performances teatrais onde as personagens de Regina Duarte e Barbara Paz afinam suas diferenças. A segunda, um exercício de estilo que se aproxima do cinema fantástico, justificado pelo conflito da escritora (Duarte) e a dificuldade de viver da escrita e em terminar seu livro, o primeiro após 17 anos. A proposta oscila entre momentos memoráveis e arritmias, mas se resume como um exercício de coragem por parte de Rafael Primot.

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