MEIA NOITE EM PARIS


Nostalgia - s.f. Melancolia, tristeza causada pela saudade de sua terra. Saudade do passado, de um lugar, etc.

Se “nostalgia” se encaixa a negação do presente, podemos dizer que Woody Allen utiliza o árduo processo de criação de um autor como contraponto de seu irônico brainstorm sobre o peso do passado em Meia Noite em Paris.

Como em Vicky Cristina Barcelona, Allen vende Paris como um cartão postal animado, usando o brilho e charme da capital francesa como uma espécie de inspiração conflituosa para o roteirista Gil Pendler (Owen Wilson como alterego do diretor), que em seu limite, transpassa para o que chama de “era de ouro”: os anos 20. Lá, ele se encontra com pilares da arte que em Paris habitavam: Picasso, Buñuel, Dalí, Fitzgerald, para citar alguns. Esta viagem no tempo não serve só como representação da busca pela profundidade das palavras e da fuga do abismo intelectual que o separa de sua esposa Inez (Rachel McAdams); Allen nos leva ao delicioso devaneio sobre o valor das marcas que o tempo nos deixa – o processo de maturidade, de valorizar seus nuances e a tentativa melancólica de se viver em lembranças.

A aura fantástica de Meia Noite em Paris transparece a intenção maior da filmografia de Allen, que é a de compor uma realidade distinta, possibilitada pelo confinamento e a necessidade de reconhecimento e provação, mesmo que o diretor seja o único habitante deste universo. Tal raciocínio proporciona cenas hilárias como seu típico humor exagerado e inseguro oriundo das comédias stand up. Da previsibilidade – dentro do contexto – em utilizar a arte como escada para piadas, passando pela política e remédios antibióticos, vemos o processo de reinvenção dentro do modelo criado pelo próprio autor, ao utilizar a magia que sustentou filmes como Simplesmente Alice e A Rosa Púrpura do Cairo.

Se não bastasse para considerar Meia Noite em Paris como o melhor Woody Allen em muitos anos – certamente o melhor de sua fase européia -, o longa vai além da análise sobre a imposição do tempo e o desenvolvimento intelectual de um homem: trata-se de um divertido tributo às influências do diretor, que é claro na hora de representá-los e digeri-los para os espectadores: eles ultrapassam a dimensão temporal, mas não importam-se em dividir esta dádiva com novos artistas.


Meia Noite em Paris (Midnight in Paris, Espanha/EUA, 2011) de Woody Allen

3 comentários:

  1. Uma bela homenagem ao viver ! A vida ! Ao respeito pela vida e ao tempo que passa !Deliciosamente despretensioso!Amei!!!!!!Paulo Baía-UFRJ

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  2. Como é bom quando todo mundo gosta de um filme do Woody Allen e eu posso elogiar bastante! haha
    O filme todo é tão redondinho, tudo se encaixa tão bem, que não teve espaço pra nenhum desapontamento.
    Além disso, pra uma apaixonada por história da arte e literatura é divertidíssimo "conhecer" figuras brilhantes como o Gil "conheceu"!
    Se eu pudesse escolher um diretor pra dirigir minha vida, com certeza seria o Woody Allen (com todas as neuroses e tal!)

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  3. No começo achei que Owen Wilson não conseguiria se dar bem em um filme do Woody Allen (por achar que ele não faz o tipo de filmes do Allen), mas depois fiquei impressionada, ele deu conta do recado tranquilamente no decorrer do filme.
    Meia noite em Paris é sensacional, envolvente, enfim é Woody Allen!

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