SUDOESTE


Por se tratar de uma história universal, Sudoeste ganha identidade pela ausência. Fora as referências claras do histórico nacional – que logo remetem à rápida associação ao cunho social e ao espaço cênico -, vemos uma narrativa tipicamente brasileira pela analogia da falta de uma região que batiza o longa vencedor dos prêmios FIPRESCI no Festival do Rio de 2011 e Andrei Tarkovsky no Festival de Zerkalo, dirigido por Eduardo Nunes.

Esta ausência é cristalizada lentamente durante o filme. Dos travellings e dollys que abraçam o cinema do próprio Tarkovsky ou de Béla Tarr e o tom de fábula – constantes do chamado novíssimo cinema brasileiro em filmes como Mãe e Filha e Histórias que Só Existem quando Lembradas, Sudoeste ganha ares de sonho e magia, mas apenas a magia seguirá intacta em seu desenvolvimento. Elipses espelham traumas e a infância pode ser culminada rapidamente. Início e fim ganham senso de unidade, afinal o tempo em Sudoeste é subjetivo. Neste terreno, a natureza ainda prevalece ante ao homem, matéria e espírito ganham mesma ótica de análise e o humano, a junção, ganha a multiplicidade analítica.

O tempo é o grande gancho do quebra-cabeça guiado lentamente por Nunes. Pois nele descobrimos como a alma de Clarice (Regina Bastos, Simone Spoladore, Raquel Bonfante) é desgastada. Através do tempo vemos a crueldade aqui amplificada num vilarejo desconhecido. Este que possui características de sertão, porém ainda é abastecido por um lago. Além de bela metáfora sobre a vida da protagonista, esta observação geográfica cabe ao método de Eduardo Nunes que em nenhum momento larga o viés contemplativo, de sequências demoradas, aliviadas apenas para Clarice pela magia – o encontro entre as duas ideias apesar de certa irregularidade, funciona.

Sudoeste está no contraste que separa sonho do pesadelo (real). O filme mora na necessidade de um apoio – incluindo o espectador – para total compreensão da liberdade, esta que culmina em atitudes despudoradas.

Sudoeste (Idem, Brasil, 2011) de Eduardo Nunes

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