FEBRE DO RATO


Recife, antro de manifestações e coletivos artísticos. Com este ponto de partida, Cláudio Assis constrói em Febre do Rato, de maneira irregular e em forma metafórica o conflito que precede a queda ou a venda de um artista para o sistema.

Febre do Rato é uma obra poderosa justamente quando exerce a funcionalidade de suas imagens, ou seja, uma função de “fora para dentro”, onde a narrativa é a peça chave e sem analogias. Esta idéia se mantém em totalidade no prólogo, onde Poeta Zizo (Irandhir Santos em mais uma atuação expressiva) é autêntico, marginal, anárquico e como todo artista, conflituoso e contraditório.

Quando o sistema o engole – representado por Eneida (Nanda Costa), o filme de Assis emperra. A verborragia poética continua, mas sem um ponto específico a atingir, há não ser reforçar a identidade pernambucana: otimismo, amizade, humor, caos, boemia e arte.  Eneida é a antítese de Zizo, o suficiente para a sugestão que o desconhecido é um labirinto extremamente atraente.

Se por um tempo vemos Zizo depoente a favor da cultura de bordas e vivenciando-a com fervor tão comovente quanto dos cristãos que tanto critica, a aparição de Eneida é o boicote completo de um homem sugado pela vaidade; sempre é o centro das atenções, não aceita baixas ou recusas, enfim, um homem contagiado pela sua criação – tema/ponto comum do cinema contemporâneo.

Nesta média, Febre do Rato, mesmo com a funcionalidade, esbarra no exagero ao representar o conflito entre vocação e profissão, ser e existir, matéria e conceito. Ficam os argumentos, e por mais que sejam vistos, vão-se os traços humanos.

★★★
Febre do Rato (Idem, Brasil, 2012) de Cláudio Assis

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